Presidente da Embraer faz alerta: tarifas dos EUA contra o Brasil podem gerar prejuízo de R$ 20 bilhões até 2030; veja vídeo
Brasil – O presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, fez um alerta contundente nesta terça-feira (16) sobre os efeitos das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. Segundo o executivo, a medida poderá causar um prejuízo de até R$ 20 bilhões até 2030, colocando em risco uma fatia significativa das operações internacionais da empresa.
Apenas no próximo ano, a fabricante brasileira de aeronaves projeta um impacto direto de R$ 2 bilhões, valor que comprometerá investimentos, empregos e contratos estratégicos com companhias aéreas norte-americanas.
“Dificilmente uma empresa consegue absorver perdas dessa magnitude. Precisamos de uma solução política e comercial urgente”, afirmou Gomes Neto em coletiva à imprensa. Veja vídeo:
EUA: principal mercado da Embraer
Atualmente, os Estados Unidos representam 45% das vendas de aviões comerciais da Embraer e 70% das vendas de jatos executivos. O impacto das tarifas, portanto, afeta diretamente a sustentação financeira da empresa no exterior.
Gomes Neto destacou que a empresa já iniciou articulações com o governo brasileiro, incluindo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, para buscar uma negociação com Washington. Ele citou o caso do Reino Unido, que conseguiu isentar o setor aeronáutico das tarifas norte-americanas, como um precedente que pode servir de exemplo para o Brasil.
“Há argumentos muito fortes a nosso favor. Estamos tratando isso como prioridade com o governo brasileiro”, reforçou.
Comparação com a pandemia
O CEO comparou o potencial de prejuízo ao impacto da pandemia da covid-19, que entre 2020 e 2021 levou a uma queda de 30% na receita da Embraer e obrigou a empresa a cortar 20% do seu quadro de funcionários.
“É uma situação de perde-perde. Afeta trabalhadores no Brasil e nos EUA, e também os fornecedores americanos de peças, que deixarão de produzir”, alertou.
Encomendas em risco
Segundo o balanço do primeiro trimestre de 2025, a Embraer possui 181 aviões comerciais encomendados por seis companhias aéreas norte-americanas, incluindo gigantes como American Airlines, Republic Airlines e SkyWest.
Somente a SkyWest tem um contrato para aquisição de 60 aeronaves, estimado em US$ 3,6 bilhões. Com as tarifas impostas por Trump, há risco de cancelamentos ou renegociações de contratos, o que pode comprometer a recuperação financeira da empresa nos próximos anos.
Pressão por acordo bilateral
A Embraer, que é a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, teme que a imposição tarifária leve ao redirecionamento de encomendas para concorrentes internacionais, como a Bombardier (Canadá) e a Mitsubishi (Japão), caso o Brasil não consiga chegar a um entendimento diplomático com os Estados Unidos.
“Se não houver uma solução política, corremos o risco de ver nossos aviões deixarem de ser competitivos no mercado mais importante do mundo”, concluiu Gomes Neto.
A crise tarifária entre Brasil e EUA se soma a uma série de tensões comerciais que já atingem setores como etanol, aço e agricultura, e pode representar um duro revés para a indústria nacional de alta tecnologia.