Tombini: BC não trabalha com flexibilização da política monetária
BRASÍLIA – O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que começou, em fevereiro, o processo de queda da inflação em 12 meses. Em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, nesta terça-feira, ele afirmou que apesar desse alívio, as incertezas vividas atualmente pelo país em relação ao equilíbrio das contas públicas fazem o BC descartar a possibilidade de corte os juros.
— Os riscos inerentes ao comportamento recente das expectativas e das taxas observadas de inflação, combinados com a presença de mecanismos de indexação na economia brasileira e de incertezas quanto ao processo de recuperação dos resultados fiscais e sua composição, não nos permitem trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias — alertou.
A queda dos juros era esperada por parte dos analistas por causa da aceleração da recessão brasileira. Tombini explicou que há sinais benignos para a inflação e a dimensão da crise e o desemprego é um deles. Frisou ainda que a correção das tarifas públicas não deve influenciar tanto quanto no ano passado e que o câmbio não afetará tanto porque tem caído e também porque o consumo de importados caiu por causa da recessão.
Ele indicou que qualquer mudança nos juros tem de estar dentro do plano de fazer a inflação convergir para a meta.
— O Banco Central não se furtará, caso novos desenvolvimentos alterem o balanço de riscos da inflação, em adotar as medidas necessárias para assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional, em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017.
Alexandre Tombini prevê que a partir de agora, os efeitos das altas de juros feitas no passado tendem a sobressair os impactos do câmbio e da alta das tarifas. Mesmo com um quadro melhor para a inflação, o presidente do BC ouviu duras críticas os parlamentares da CAE.
O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) disse que Tombini nunca conseguiu entregar a inflação na meta e mesmo assim faz essa previsão todo o ano. Isso, segundo ele, teria afetado a confiança no trabalho da autoridade monetária.
— O Banco Central se recusa a falar a verdade para a população (…) perdendo com isso um dos seus ativos mais importante, que é a credibilidade — disse o senador antes de indagar o motivo de o BC não ter feito uma meta ajustada.
Tombini rebateu os ataques e afirmou que apenas neste ano, quando a inflação ficou em 10,7%, ele teve de escrever uma carta ao ministro da Fazenda (como prevê a lei) para explicar o porquê de o índice oficial, o IPCA, ter ultrapassado o limite máximo de 6,5% da meta estipulada pela equipe econômica.
— Nos cinco anos que estou à frente do Banco Central, apenas em 2015 escrevi uma carta aberta. Ajuste de metas, há controvérsias. Ajustar meta para que? Para não escrever a carta? Para ajustar expectativas?
As críticas sobre as sinalizações do BC aumentaram em janeiro. Um dia antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Tombini divulgou uma nota inédita para comentar um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). A intenção era reverter as expectativas do mercado financeiro de alta dos juros. Nesta terça-feira, ele explicou que desde o fim do ano passado, o quadro macroeconômico global tornou-se mais complexo e, consequentemente, menos previsível por causa da desaceleração da China, da onda de aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais e da queda dos preços do petróleo e das commodities.
— Não foi por acaso que os principais bancos centrais do planeta reformularam suas comunicações no início do ano, quando os temores nos mercados financeiros, com destaque para as preocupações em relação à China, se elevaram. Em resumo, o que se vislumbra para este ano é um menor dinamismo para a economia global e a manutenção de níveis altos de volatilidade e de incerteza.
AJUSTE FISCAL
Alexandre Tombini fez uma defesa do ajuste fiscal, que depende da provação do Congresso Nacional. Classificou como “crucial e imprescindível” a mudança nas contas públicas.
— Não há como sustentar conquistas econômicas e sociais se não houver confiança por parte da sociedade na gestão fiscal, sobretudo num horizonte de médio e longo prazos.
Questionado sobre o uso das reservas internacionais para outros fins que não ficarem no BC como uma poupança para crises externas- como sugerida pelo PT – ele nem conseguiu responder. Foi interrompido pela presidente da CAE, a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), que foi contra uma alteração agora.
— Quando muito poderíamos usar (as reservas) para abater dívida bruta, mas não é o caso neste momento — disse a parlamentar.
Coube a Tombini apenas dizer que as reservas deve ser usadas como proteção. Ele também foi questionado sobre a criação de depósitos diretos no Banco Central, antecipada pelo GLOBO em fevereiro. Ele disse que esse depósito voluntário não substitui outros instrumentos.
— Vários bancos Centrais têm. É um instrumento a mais para permitir o BC a administrar a liquidez da economia. Não deve substituir outros instrumentos.