Número de adultos que moram com os pais cresce 137% no Brasil
Brasil – Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma mudança significativa nos arranjos familiares: o número de adultos que continuam morando com os pais disparou, registrando um aumento de 137%. Mais do que um simples dado estatístico, esse fenômeno reflete profundas transformações sociais, econômicas e culturais que estão moldando novas formas de convivência no país.
De acordo com dados recentes, a proporção de adultos entre 25 e 34 anos que vivem na casa dos pais cresceu exponencialmente nas últimas décadas. Esse movimento, conhecido globalmente como “geração canguru”, ganhou força no Brasil por uma combinação de fatores. A instabilidade econômica, o aumento do custo de vida, a precarização do mercado de trabalho e a busca por maior proximidade familiar são algumas das razões que levam jovens adultos a permanecerem ou retornarem ao lar parental.
### Desafios econômicos como pano de fundo
A crise econômica, agravada por períodos de recessão e inflação, tem dificultado a independência financeira de muitos brasileiros. O preço dos imóveis, tanto para compra quanto para aluguel, disparou em grandes centros urbanos, tornando a emancipação residencial um sonho distante para muitos. Além disso, a precariedade de empregos, com contratos temporários e salários que não acompanham a inflação, faz com que jovens adultos priorizem a segurança financeira proporcionada pela casa dos pais.
“Eu gostaria de ter meu próprio espaço, mas os aluguéis estão impossíveis. Morar com meus pais me permite economizar e planejar melhor o futuro”, conta Mariana Silva, de 29 anos, que voltou a morar com a família após dificuldades financeiras.
### Mudanças culturais e novas dinâmicas familiares
Além das questões econômicas, fatores culturais também influenciam essa tendência. No Brasil, os laços familiares são historicamente fortes, e a convivência intergeracional é vista como natural em muitas regiões. Diferentemente de gerações passadas, quando sair de casa era sinônimo de independência, hoje muitos jovens adultos veem a permanência no lar dos pais como uma escolha prática e emocional.
Essa convivência, no entanto, não está isenta de desafios. A necessidade de renegociar papéis dentro de casa, equilibrar privacidade e convívio, além de lidar com expectativas familiares, pode gerar tensões. Por outro lado, a proximidade também tem fortalecido laços afetivos e permitido maior apoio mútuo entre gerações. “Minha mãe e eu dividimos as contas e as tarefas. É uma relação de parceria”, explica Lucas Mendes, de 32 anos, que mora com a mãe em São Paulo.
O aumento de adultos morando com os pais também reflete mudanças nas prioridades da juventude. Muitos estão adiando marcos tradicionais, como casamento e filhos, em prol de investimentos em educação, carreira ou experiências pessoais. A valorização da flexibilidade e a busca por estabilidade antes de dar grandes passos, como comprar uma casa, também explicam essa tendência.
Outro ponto relevante é o impacto na estrutura familiar. Casas multigeracionais estão se tornando mais comuns, o que pode trazer benefícios, como maior suporte emocional e financeiro, mas também exige adaptações. Arquitetos e urbanistas já observam uma demanda por imóveis que acomodem famílias extensas, com espaços que garantam privacidade para todos.
Um fenômeno global com raízes locais
Embora o fenômeno da “geração canguru” seja observado em diversos países, no Brasil ele ganha contornos únicos devido às particularidades socioeconômicas e culturais. Enquanto em nações como os Estados Unidos e a Austrália o movimento é mais associado à crise imobiliária, no Brasil ele reflete também a força dos vínculos familiares e a necessidade de estratégias coletivas para enfrentar dificuldades econômicas.