Carne bate R$ 150 o quilo nos EUA após tarifa de 50% contra o Brasil
Mundo – O consumidor americano está sentindo no bolso o impacto de uma “tempestade perfeita” no mercado de carne bovina. Nos últimos meses, o preço do quilo da carne para churrasco nos Estados Unidos ultrapassou os US$ 11,87, o equivalente a R$ 150, marcando um recorde histórico.
O aumento, segundo especialistas, é resultado de uma combinação de fatores internos e externos, com destaque para a nova tarifa de 50% imposta pelo governo americano sobre a carne importada do Brasil.
A alta também atinge outros cortes populares: a carne moída, por exemplo, chegou a custar US$ 6,33 por libra (cerca de R$ 75 o quilo).
Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o preço da carne bovina subiu 3,3% em julho, acumulando 9% de alta no semestre.
Em julho, a Casa Branca aprovou um “tarifaço” de 50% sobre as importações de carne bovina brasileira, medida que impactou diretamente os custos dos produtos no mercado americano.
A decisão veio após pressões internas de grupos ligados ao agronegócio dos EUA, que pediam proteção contra a concorrência da carne brasileira, tradicionalmente mais barata.
Com a nova taxa, o preço da tonelada da carne brasileira passou de US$ 6.100 para cerca de US$ 8.400, tornando-a menos competitiva frente a fornecedores como Austrália e Uruguai.
Frigoríficos brasileiros, como JBS e Marfrig, chegaram a suspender temporariamente os embarques para os EUA, redirecionando parte da produção para outros mercados.
Além disso, o USDA revisou para baixo sua estimativa de produção nacional de carne: uma redução de 4% em relação à previsão original para 2025, totalizando 25,9 bilhões de libras. A principal causa é a seca prolongada em regiões produtoras, que reduziu o rebanho e afetou o peso médio dos animais abatidos.
Outro agravante foi a imposição de restrições sanitárias ao México, tradicional fornecedor de gado vivo aos Estados Unidos. Desde maio, o USDA proibiu temporariamente a importação de bovinos mexicanos devido à presença da praga New World Screwworm, conhecida no Brasil como “bicheira”.
Essa medida contribuiu ainda mais para a escassez de carne no mercado americano, afetando sobretudo os estados do sul do país, que dependem fortemente da importação mexicana para manter os abates.
O reflexo no consumo é imediato. Em redes de supermercados e açougues nos Estados Unidos, famílias relatam dificuldade em manter o tradicional churrasco de fim de semana.
Cortes como picanha, contrafilé e costela têm registrado aumentos semanais, com variações de preço acima de 30% desde o início do ano.
Apesar da perda de competitividade nos EUA, o Brasil ainda é o maior exportador de carne bovina do mundo. Especialistas do setor afirmam que, mesmo com a nova tarifa, a carne brasileira segue atrativa em termos de custo-benefício.
“O Brasil precisa aproveitar o momento para buscar novos mercados e valorizar a qualidade do seu produto, não apenas o preço”, afirma Roberto Perosa, da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
O risco, porém, está na dependência excessiva de grandes compradores. Em 2024, os EUA representaram cerca de 12% das exportações brasileiras de carne bovina.
Com a nova tarifa, esse percentual deve cair em 2025, forçando o setor a acelerar acordos comerciais com países da Ásia, Oriente Médio e América Latina.


