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Brasileiros correm às casas de câmbio para aproveitar alívio no dólar

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RIO – A queda abrupta da cotação do dólar em março — que despencou quase 10% em menos de duas semanas no mercado turismo — fez disparar a compra da moeda americana nos bancos e nas corretoras de câmbio. Em alguns casos, o volume de venda chegou a triplicar frente aos dias anteriores. São pessoas antecipando compras para viagens já marcadas para o ano e até mesmo quem só sonha com uma nova viagem ao exterior, segundo quem trabalha na área. Com aumento das vendas, teve corretora com dificuldade nas entregas e falta de moeda em cidades mais distantes.

Cotação, DG Câmbio e Banco Paulista relataram que o volume diário de venda de dólares triplicou em março frente aos dias anteriores, quando a moeda ainda era negociada acima dos R$ 4. Em 21 de janeiro, o dólar turismo fechou a R$ 4,36, no maior valor do ano. Desde o início do mês a queda foi de 8,93%, o que representa uma diferença de R$ 0,37. O dólar turismo caiu de R$ 4,14 em 29 de fevereiro para R$ 3,77 ontem, segundo a CMA, considerando a negociação em São Paulo. Numa compra de US$ 1 mil, isso significa uma economia de R$ 370. O recuo da moeda ganhou fôlego com as notícias sobre a delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS) na operação Lava-Jato, no dia 3, e a condução coercitiva do ex-presidente Lula, no dia seguinte.

— Essas duas semanas foram de loucura, com pessoas procurando aproveitar o preço mais baixo do dólar. Registramos aumento de 33% das vendas neste início de março, frente a igual período de janeiro e de fevereiro, que são meses de alta temporada e geralmente o movimento é maior — afirma Juvenal dos Santos, superintendente de varejo da Confidence Câmbio, com 120 lojas no país.

No Banco Paulista, que atende tanto o varejo quanto o atacado — com a venda de moeda estrangeira para outros bancos e corretoras —, o número de operações disparou para mais de 200 por dia em março, frente a uma média de 30 a 40 que vinha desde o ano passado, quando o dólar passou a subir.

— Desde a semana passada o mercado caiu absurdamente. Vendi tanto que só estou entregando na semana que vem. Tive que aumentar a importação das moedas estrangeiras para regular nosso estoque — conta o diretor de câmbio da instituição, Tarcisio Rodrigues Joaquim.

Gerente de câmbio da Western Union no Brasil, Fabiano Rufato aponta que a “demanda claramente aumentou”:

— Havia muita compra represada porque o dólar vinha de um período de alta, alta, alta. O aumento da procura foi bastante considerável.

Com um prazo de entrega das moedas compradas pela internet geralmente de 72 horas, na DG Câmbio compras feitas no dia 4 de março só estão programadas para serem entregues no fim do mês. A corretora colocou até mesmo um aviso em seu site avisando que “o prazo de entrega e o retorno para os nossos clientes estão demorando mais que o habitual”. Segundo o diretor Valdir Junior, a questão é a logística de entrega e não a falta da moeda. Quem tiver urgência, segundo ele, pode pegar os dólares diretamente nas lojas:

— O movimento triplicou e não temos atendentes nem entregadores suficientes para dar conta dos pedidos. Esse movimento foi uma surpresa.

Para o diretor da distribuidora de câmbio turismo Cotação, Alexandre Fialho, as compras têm sido feitas tanto por quem já está com viagem marcada como por quem viu oportunidade de aproveitar o nível mais baixo da moeda.

— Tinha muita venda represada. Com uma queda dessa, muita gente correu para garantir o dólar. Com um dólar a menos de R$ 4, até quem não estava inclinado a viajar agora passou a considerar a possibilidade.

Um exemplo disso foi o movimento na Casa Behar, no Centro do Rio. O aumento das vendas foi de 15% nos últimos três dias da semana passada, frente a igual período da semana anterior. Entre as compras de menor valor — de até US$ 500 —, o aumento foi mais expressivo, de 60%.

— O público que compra em quantidades menores geralmente não está com viagem marcada, mas quer aproveitar para ir juntando dinheiro aos poucos para uma viagem futura — diz o operador da BeharLuis Santos.

A queda do dólar acaba se refletindo nas outras moedas estrangeiras, como o euro. Com viagem marcada para Portugal em julho com mulher, o aeroviário Antônio Ferreira, de 49 anos, foi ontem a uma casa de câmbio no Centro para garantir mais euros:

— Eu cheguei a comprar por R$ 4,45 há alguns dias e agora comprei a R$ 4,18. Calculo uma economia de cerca de 5%. Essa diferença usaremos para fazer outros programas lá em Portugal.

Já o advogado Fábio Resende, de 35 anos, vai para Nova York em agosto e fez compras de dólar pela segunda vez desde que decidiu viajar, há um mês:

— Comprei dólar a R$ 4,05 e agora a R$ 3,75. Sempre compro quantias pequenas, ainda mais com a situação atual do país. Acredito que seja o menos arriscado, no caso de uma mudança muito grande.

A trajetória de queda do dólar, no entanto, não é certa para os próximos dias. Ontem, a moeda já fechou em alta. E especialistas garantem que a tendência ainda é de volatilidade.

— O mercado está agora sobrepondo a questão política à econômica. Não há fundamentos econômicos que expliquem a valorização do real. Não temos perspectiva forte de entrada de dólares então o movimento parece mais de euforia. Estamos observando um vento que pode parar a qualquer momento.

Procurados, Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco não comentaram sobre o movimento de compra de dólares.


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