Wilson Lima lança edital de quase R$ 2 bilhões para OS administrar os Hospitais João Lúcio e da Criança na Zona Leste
Manaus – O governador Wilson Lima (UB) autorizou, por meio da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), um contrato bilionário que entrega a gestão de dois dos principais hospitais públicos da capital para uma organização social (OS). O Edital de Convocação Pública nº 02/2025, publicado nesta segunda-feira (11), prevê a transferência da administração completa do Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio Pereira Machado e do Hospital da Criança da Zona Leste — ambos localizados na zona leste de Manaus — pelo valor de R$ 1.969.149.047,30.
A secretária de Saúde, Nayara de Oliveira Maksoud, nomeada em março de 2024, assinou a autorização. Pelo modelo, a OS escolhida terá autonomia para contratar profissionais, comprar equipamentos, manter sistemas, controlar serviços clínicos e até decidir sobre escalas médicas, tudo com recursos públicos e sob um controle direto do Estado considerado mínimo por especialistas.
Entre as cláusulas polêmicas do edital, está a exigência de que a organização contratada abra mão de contestar o contrato, mesmo que irregularidades sejam encontradas posteriormente. O formato adotado tem sido criticado por abrir brechas para má gestão, precarização do atendimento e até corrupção.
Ele citou exemplos de terceirizações malsucedidas em São Paulo e no Rio de Janeiro, que resultaram em denúncias de corrupção, superfaturamento e queda na qualidade dos serviços.
Pacientes relatam descaso
Enquanto a promessa é de modernização e agilidade, a realidade nas unidades é de filas e sofrimento. Roger de Sena, filho de paciente atendida no João Lúcio, relatou:
“Esse hospital deixa a desejar, porque tratam a gente como se fosse um bicho. Minha mãe tem problema de cabeça e é humilhada. O funcionário diz que está fazendo o trabalho dele, mas nem isso faz direito. Eu tenho gravações de técnicos de enfermagem desrespeitando pacientes e familiares. É um absurdo.”
A indignação cresce entre usuários que enfrentam meses de espera para exames e cirurgias, além de falta de medicamentos e estrutura precária.
Fiscalização em xeque
O Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o edital. No entanto, em 8 de maio de 2024, o TCE já havia feito a operação Blitz TCE-AM nos dois hospitais, constatando filas, falta de insumos e problemas estruturais graves. As recomendações feitas à SES-AM, porém, não impediram o avanço do processo de terceirização.
Perguntas sem resposta
O espaço segue aberto para manifestação da secretária Nayara Maksoud, do governador Wilson Lima e dos demais citados. A população quer saber:
Quem vai fiscalizar esse contrato? Como garantir que os quase dois bilhões serão investidos no atendimento e não em lucro privado? Por que um contrato dessa magnitude foi firmado sem amplo debate público?
Enquanto as respostas não vêm, a saúde pública do Amazonas segue sob pressão, e dois dos seus principais hospitais estão prestes a mudar de comando — longe dos holofotes, mas sob o olhar atento de quem depende diariamente deles para sobreviver.






