PSOL prevê cassação de Glauber Braga no plenário e organiza ofensiva com Lula e STF; veja vídeo
Brasil – A possibilidade de cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) ganhou contornos dramáticos após a aprovação de sua perda de mandato pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados na última quarta-feira (9/4). Parlamentares do PSOL, em um cenário que classificam como “pessimista”, apontam a influência do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por trás do processo e planejam uma contraofensiva que inclui diálogo com o presidente Lula, líderes partidários e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“É um cenário pessimista. O plenário hoje replicaria a correlação de forças do Conselho de Ética que aprovou a cassação do mandato dele”, afirmou à CNN a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP), esposa de Glauber. Segundo ela, o partido organiza uma frente ampla para reverter a situação, envolvendo conversas com lideranças de bancadas, presidentes de partidos, o Palácio do Planalto e o STF. “Vamos buscar os líderes e os presidentes de partidos. Importante também o presidente Lula nesse processo. Já estamos falando com interlocutores dele, como a ministra Gleisi Hoffmann”, completou.
O processo contra Glauber tem como base uma acusação de quebra de decoro parlamentar. Em abril de 2024, o deputado teria expulsado, com chutes, o militante do Movimento Brasil Livre (MBL), Gabriel Costenaro, das dependências da Câmara. O relatório do deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), aprovado no Conselho de Ética, recomenda a cassação, mas o PSOL ainda pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes da votação final no plenário.
Parlamentares do PSOL, como o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), apontam que o caso reflete uma rixa antiga entre Glauber e Arthur Lira, ex-presidente da Câmara. “Há uma questão do ex-presidente Arthur Lira com Glauber que vem desde a legislatura passada. Glauber é o parlamentar mais crítico ao Orçamento Secreto, e ele e Lira já discutiram no plenário. Lira manteve seu poder mesmo deixando a presidência”, afirmou Valente à CNN. Ele também revelou que o partido tem uma reunião agendada com a ministra Cármen Lúcia, do STF, na próxima terça-feira, e planeja dialogar com outros ministros da Corte.
O atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também está no centro das críticas. Segundo Sâmia Bonfim, Motta não atendeu os pedidos de diálogo do PSOL e tem se mantido distante do caso. “Se o recurso que apresentarmos à CCJ for negado, ele decidirá quando pautar a cassação. Pode haver uma saída, porque ele ainda não pautou o relatório da cassação do deputado Chiquinho Brazão”, observou. Valente foi mais incisivo: “O centro disso tudo é o Lira. O Motta sumiu, desapareceu, e ninguém consegue falar com ele. Muitos deputados e líderes têm nos dito que há orientação de cima para cassar o Glauber.”
Procurado pela CNN, Hugo Motta, por meio de sua assessoria, negou qualquer relação com o processo. Já Arthur Lira divulgou uma nota na quinta-feira (10/4) rebatendo as acusações. Ele afirmou que o caso de Glauber envolve uma “gravíssima acusação” de agressão física dentro da Câmara, representada pelo Partido Novo, e não por ele ou seu partido. “Refuto veementemente mais essa acusação ilegítima por parte do Deputado Glauber Braga e ressalto que qualquer insinuação da prática de irregularidades, descasada de elemento concreto de prova, dará ensejo à adoção das medidas judiciais cabíveis”, declarou.
Desde a decisão do Conselho de Ética, Glauber Braga mantém uma greve de fome no plenário 5 da Câmara, onde ocorreu a sessão. Na quinta-feira, um ato ecumênico foi realizado em solidariedade ao deputado, que enfrenta o que o PSOL considera uma medida desproporcional. A líder do partido, Talíria Petrone (PSOL-RJ), tentou contato com Hugo Motta diversas vezes sem sucesso, segundo informou ao Metrópoles. Ela também destacou a preocupação com o precedente que a cassação de Glauber pode abrir na Casa, uma percepção compartilhada por parlamentares de diferentes espectros ideológicos.
A sessão que aprovou a cassação foi marcada por tensão, com deputados do PSOL acusando a existência de um “acordo informal” para punir Glauber, sob forte influência de Lira. O partido agora aposta no recurso à CCJ e na pressão política e jurídica para reverter o quadro. “Estamos lutando em todas as frentes. Essa cassação não é só sobre o Glauber, é sobre o que ela representa para a democracia e o debate político na Câmara”, afirmou Talíria.
Enquanto o PSOL intensifica sua articulação, o futuro de Glauber Braga segue incerto. O recurso à CCJ será um teste crucial, mas a votação final no plenário, caso ocorra, dependerá da decisão de Hugo Motta sobre quando pautar o caso. Até lá, o partido busca apoio no STF e no governo federal, na esperança de evitar o que considera uma injustiça política orquestrada por interesses poderosos na Câmara.
Greve de fome
A greve de fome do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) entrou em seu terceiro dia nesta sexta-feira (11), como parte de um protesto contra o processo que pode resultar na cassação de seu mandato. Segundo a assessoria do parlamentar, ele continua ingerindo apenas isotônico e água, mantendo-se firme em sua decisão de dormir no chão de uma das comissões da Câmara dos Deputados até a conclusão do caso.
De acordo com a equipe, Glauber, que está há mais de 48 horas sem comer, tem buscado serenidade ouvindo músicas de bandas como NX Zero, uma de suas favoritas. “Ele está tranquilo, focado no propósito do protesto, e a música o ajuda a manter a calma”, informou a assessoria em nota. Além disso, o deputado tem tomado banho nas dependências da Câmara, reforçando sua intenção de não deixar o local enquanto o processo estiver em andamento.
Glauber Braga anuncia greve de fome. Como ficará o Méc da Sâmia??
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O ato extremo de Glauber começou na quarta-feira (9), após o Conselho de Ética da Câmara aprovar, por maioria, um parecer favorável à cassação de seu mandato. A decisão está relacionada a um episódio ocorrido em abril de 2024, quando o deputado agrediu fisicamente um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) durante uma confusão em Brasília. Imagens mostram Glauber expulsando o manifestante com chutes e empurrões, o que gerou a abertura do processo disciplinar.
Na sessão do Conselho de Ética, o parlamentar anunciou sua greve de fome e afirmou que permanecerá na Câmara como forma de denunciar o que considera uma perseguição política. “Não vou recuar. Minha luta é pela democracia e contra abusos de poder”, declarou Glauber, segundo relato de sua equipe.
A decisão final sobre a cassação será tomada pelo plenário da Câmara, em data ainda não definida pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB). O plenário pode confirmar ou rejeitar a recomendação do Conselho de Ética.