O declínio de Arthur Virgílio: de gigante da política à figura desacreditada; veja vídeo
Amazonas – Arthur Virgílio Neto já foi um titã da política amazonense, um nome que ecoava respeito não apenas no Amazonas, mas em todo o Brasil. Diplomata, deputado federal, senador e prefeito de Manaus em três mandatos, ele construiu uma carreira de 44 anos que o colocou no panteão dos grandes líderes do estado. No entanto, o que outrora foi prestígio transformou-se em polêmica, e hoje, aos 79 anos, Arthur amarga um papel secundário, alvo de críticas que nem seus antigos aliados conseguem abafar. O que aconteceu com aquele que já foi visto como o “defensor do Amazonas”? A resposta está em uma combinação devastadora de escândalos pessoais, escolhas controversas e a perda de conexão com o povo que um dia o acolheu.
Uma trajetória de poder e controvérsia
Arthur entrou na política em 1978, seguindo os passos do pai, o senador Arthur Virgílio Filho, e foi eleito deputado federal em 1982 pelo PMDB. Sua ascensão foi meteórica: assumiu a prefeitura de Manaus pela primeira vez em 1988 e, ao longo das décadas, ocupou cargos de destaque, como senador e ministro no governo Fernando Henrique Cardoso. Sua postura combativa, como quando ameaçou “dar uma surra” em Lula no Congresso, rendeu-lhe fama de destemido. Mas, por trás da fachada de defensor do povo, cresciam as acusações de que ele usava o poder para benefício próprio, traindo a confiança dos manauaras. “Quer conhecer um homem? Dê poder a ele”, diz o ditado, e Arthur parece ter encarnado sua pior interpretação.
O ponto de inflexão veio com seu casamento com Elisabeth “Betinha” Valeiko, em 2016, após 27 anos casado com Goreth Garcia. O que poderia ser apenas uma mudança pessoal tornou-se o estopim de uma série de escândalos que mancharam irremediavelmente sua reputação. A relação com Betinha trouxe à tona não apenas a traição que abalou Goreth — que se afastou da vida pública, carregando a humilhação —, mas também uma avalanche de polêmicas envolvendo os filhos dela, Alejandro e Paola Valeiko.
O caso Flávio: um crime que abalou Manaus
O assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos, em setembro de 2019, é o marco mais sombrio dessa queda. O crime ocorreu após uma festa na casa de Alejandro, no luxuoso condomínio Passaredo, em Manaus. Flávio foi espancado e esfaqueado, e seu corpo foi encontrado horas depois em um terreno no Tarumã. A investigação apontou Alejandro como executor e Paola como cúmplice na tentativa de apagar evidências. Arthur, então prefeito, foi acusado de usar sua influência para proteger o enteado, que acabou absolvido em 2022 num processo que muitos consideram manipulado. Betinha, por sua vez, defendeu os filhos publicamente, chamando Alejandro de “doente” e vítima, enquanto se reinventava como influencer, postando mensagens de autoajuda que soam cínicas diante da gravidade do caso.
Cinco anos e meio depois, a família de Flávio ainda clama por justiça, enquanto a percepção de impunidade só cresce. A morte de um investigador, como o delegado Aldney Góes, assassinado em 2023, e de uma testemunha-chave, Elizeu da Paz, executado em 2024, alimenta teorias de que o caso foi abafado por forças poderosas. Para os manauaras, o “caso Flávio” é mais que uma tragédia: é a prova de que o sistema protege os privilegiados, e Arthur, outrora um símbolo de liderança, tornou-se sinônimo dessa falha.
O filho negado e o suicídio de Fábio
Outro golpe em sua imagem veio do passado. Fábio Rogério Trindade Vieira, suposto filho de Arthur com a empregada doméstica Ivanilde Ramos de Oliveira, lutou por anos para ser reconhecido pelo ex-prefeito. Vivendo em condições precárias, Fábio moveu ações judiciais exigindo um exame de DNA, mas Arthur nunca cedeu. Em 2016, aos 36 anos, Fábio cometeu suicídio, deixando esposa e cinco filhos. Antes de morrer, gravou um vídeo pedindo “respeito e dignidade”, um apelo que expôs a frieza de Arthur e chocou quem ainda via nele um líder íntegro. O caso, abafado por anos, ressurgiu como um lembrete do custo humano de sua arrogância.
A vida pública de Arthur desmoronou nos últimos anos. Após deixar a prefeitura em 2020, tentou um retorno ao Senado em 2022, flertando com o bolsonarismo, mas sofreu uma derrota humilhante. Sua saída do PSDB, partido que ajudou a fundar, em 2022, após 33 anos, foi o epílogo de uma carreira que perdeu brilho.
Hoje, enquanto Betinha busca relevância nas redes sociais, Arthur vive recluso, longe do protagonismo que já teve. O povo de Manaus, que outrora o celebrou, agora o vê como uma figura desacreditada, queimada por escândalos e pela percepção de que o poder o transformou em alguém distante de seus ideais iniciais.
De gigante da política a alvo de desprezo, o declínio de Arthur Virgílio Neto é uma lição amarga: o prestígio construído em décadas pode ruir quando a confiança se quebra. Resta saber se, em silêncio, ele reflete sobre o preço de suas escolhas