Nikolas Ferreira quer convidar Tagliaferro, ex-assessor no STF, para esclarecimentos na Câmara; veja
Brasil – O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) protocolou, na quarta-feira (16), um requerimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados solicitando o convite de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para prestar esclarecimentos. O pedido tem como base mensagens reveladas por um jornal, nas quais Tagliaferro expressa temor de “ser preso ou morto” caso tornasse públicas informações sobre sua atuação como assessor de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Tagliaferro, que chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE entre agosto de 2022 e maio de 2023, período em que Moraes presidia a Corte, era responsável por produzir relatórios sobre políticos, influenciadores e veículos de comunicação acusados de disseminar desinformação contra instituições públicas e o processo eleitoral. Sua saída do cargo ocorreu após ser preso sob suspeita de violência doméstica, o que levou à sua exoneração.
O requerimento de Ferreira cita mensagens interceptadas pela Polícia Federal (PF), nas quais Tagliaferro relata à sua esposa, em abril de 2024, ter repassado informações à imprensa, especificamente ao jornal Folha de S.Paulo. Essas mensagens, obtidas após a quebra de sigilo telemático autorizada por Moraes em agosto de 2024, também revelam o receio do ex-assessor de represálias por expor bastidores de sua atuação no TSE. “Se falar algo, o ministro me mata”, teria dito Tagliaferro, segundo reportagens.
Em abril de 2025, a PF indiciou Tagliaferro por violação de sigilo funcional com dano à administração pública, acusando-o de vazar diálogos entre Moraes e servidores do STF e TSE, com o suposto objetivo de “arranhar” a imagem do ministro e atrapalhar investigações, como o inquérito das fake news. O relatório da PF, com 21 páginas, reúne arquivos do celular do ex-assessor e aponta que o vazamento foi intencional. O inquérito agora aguarda parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se oferece denúncia criminal contra Tagliaferro.
Por se tratar de um convite, e não uma convocação, Tagliaferro não é obrigado a comparecer à Câmara, mesmo que o requerimento seja aprovado pela comissão. Nikolas Ferreira, no entanto, insiste na importância do depoimento, alegando que as mensagens “lançam luz sobre possíveis abusos de autoridade e ações incompatíveis com o Estado Democrático de Direito”. O deputado, alinhado ao bolsonarismo, tem usado o caso para criticar Moraes, figura central em investigações contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A defesa de Tagliaferro, representada pelo advogado Eduardo Kuntz, rebateu as acusações da PF, classificando os indícios como “fracos” e questionando a legalidade da quebra de sigilo de conversas entre o ex-assessor e seu advogado, autorizada por Moraes. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se manifestou, repudiando a violação do sigilo profissional e prometendo acompanhar o caso.
O requerimento de Nikolas Ferreira reacende o embate entre setores da oposição e o STF, em um contexto de tensões políticas envolvendo o inquérito das fake news e as ações de Moraes contra desinformação. A aprovação do convite na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle ainda depende de inclusão na pauta e votação, mas o caso já mobiliza debates nas redes sociais e na imprensa.
Enquanto o STF e a PGR avaliam os próximos passos do inquérito, a sociedade acompanha com atenção as implicações do caso, que expõe fragilidades na relação entre sigilo funcional, transparência e o combate à desinformação no Brasil.
Mensagens publicadas pelo relatório da PF e noticiado pela Gazeta revelaram que ex-assessor do Ministro Alexandre de Moraes temia “ser morto” se revelasse o que sabia. As mensagens atribuídas a Tagliaferro, nas quais ele expressa temor em relação ao ministro Moraes, levantam… pic.twitter.com/cKchhFRovT
— Nikolas Ferreira (@nikolas_dm) April 16, 2025