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Mentira derrubada: Paula Litaiff tem vídeo de dissertação removido pela UFAM após atacar indígenas

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Mentira derrubada: Paula Litaiff tem vídeo de dissertação removido pela UFAM após atacar indígenas

Manaus – A decisão da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) de retirar do ar, nesta terça-feira (25/6), o vídeo da dissertação de mestrado da jornalista Paula Litaiff marca um divisor de águas na relação entre academia, jornalismo e causas sociais. Fundadora da Revista Cenarium, veículo que se autoproclama defensor dos direitos indígenas, Litaiff agora enfrenta uma grave crise de credibilidade, após acusações de distorção de depoimentos, violação de direitos coletivos e uso indevido de fontes em sua pesquisa intitulada “Violência Simbólica de Gênero no Parque das Tribos”.

A medida da UFAM, assinada pelo vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), Bruno de Oliveira Rodrigues, foi tomada como ação cautelar enquanto tramita a impugnação formal do trabalho. A denúncia foi feita pelos advogados indígenas Isael Munduruku e Danielle Baré, em nome do cacique Ismael Munduruku, diretamente citado na dissertação como suposto autor de “violência simbólica” contra mulheres da comunidade.

No entanto, a própria liderança feminina do Parque das Tribos contesta a versão apresentada por Litaiff. Maira Mura, apontada como principal fonte do estudo, declarou publicamente: “Nunca disse a nenhum pesquisador que Ismael Munduruku se autodeclarou liderança. Essa fala atribuída a mim é falsa”. A afirmação desmonta a espinha dorsal da dissertação e levanta a suspeita de manipulação consciente de conteúdo por parte da autora.

Dissertação ou distorção?

A dissertação de Paula Litaiff é alvo de críticas contundentes por parte das lideranças indígenas. Os advogados que protocolaram a impugnação afirmam que a jornalista violou princípios da Convenção 169 da OIT, que garante a consulta prévia, livre e informada das comunidades indígenas sobre qualquer pesquisa que envolva seus modos de vida. Também acusam a pesquisadora de realizar consultas seletivas, ignorar a pluralidade étnica da comunidade e distorcer depoimentos para validar uma tese pessoal.

“O que aconteceu não é apenas um erro acadêmico. É uma agressão simbólica, intelectual e ética a uma comunidade inteira. Paula Litaiff se valeu de sua posição como jornalista e estudante de pós-graduação para fabricar uma narrativa sem base real, colocando em risco a imagem de uma liderança indígena respeitada”, afirmou o advogado Isael Munduruku.

Jornalismo sob suspeita

A repercussão do caso transcende os muros da universidade. Fundadora e editora da Revista Cenarium, Litaiff sempre se posicionou como porta-voz das causas indígenas e de pautas progressistas. Mas o episódio levanta uma questão perturbadora: se houve manipulação no ambiente acadêmico, o que garante a veracidade das matérias publicadas por seu veículo?

O episódio coloca em dúvida a integridade editorial da Revista Cenarium, conhecida por adotar uma linha ativista e de militância em defesa dos povos originários. Agora, a publicação passa a ser questionada como possível instrumento de agendas pessoais, disfarçadas sob o manto do jornalismo social.

Quem vigia os vigilantes?

A contradição entre o discurso público de Paula Litaiff e a prática revelada em sua dissertação alimenta um debate incômodo: quem fiscaliza os fiscais da moral pública? Quando uma jornalista, reconhecida por denunciar violações, é acusada de cometer justamente aquilo que condena, toda a estrutura de confiança no jornalismo engajado entra em colapso.

A dissertação, ao mirar diretamente em Ismael Munduruku, ignora sua trajetória como articulador de políticas de protagonismo feminino dentro do Parque das Tribos. Entre suas iniciativas estão:

Criação do Centro de Medicina Indígena, coordenado por mulheres;

Apoio a oficinas de artesanato para autonomia financeira de indígenas;

Organização da visita da ministra Cármen Lúcia ao Parque, fortalecendo o diálogo com o Judiciário;

Estímulo à participação feminina em oficinas de jornalismo indígena;

Defesa ativa da paridade nas assembleias comunitárias.

Consequências e próximos passos

A retirada do vídeo da dissertação representa o reconhecimento institucional, ainda que inicial, de que houve falhas graves na condução da pesquisa. O colegiado do PPGSCA irá analisar em julho a continuidade do processo de impugnação. A depender da decisão, Litaiff pode ter seu título de mestre anulado.

A comunidade indígena aguarda não apenas a responsabilização da autora, mas também uma retratação formal da universidade, da própria jornalista e de todos os envolvidos na validação de um trabalho considerado ofensivo e desrespeitoso à autodeterminação dos povos indígenas.





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