Maria do Carmo expõe a própria falta de conexão com a cultura popular ao atacar políticos que participaram do Festival de Parintins
Amazonas – Enquanto a ilha de Parintins vibrava com a força da cultura amazonense, Maria do Carmo, pré-candidata ao governo estadual, optou por um caminho inverso: a ausência. Em vez de se juntar aos milhares de cidadãos que celebravam a tradição dos bois-bumbás, ela preferiu ficar de fora — e, de longe, lançou críticas duras a quem participou do evento.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Maria atacou os políticos presentes no festival, acusando-os de se “refestelarem em camarotes de luxo financiados com dinheiro público” e alegando que eles estariam alheios ao sofrimento da população. O tom moralista não passou despercebido — nem entre adversários, nem entre seus próprios aliados, muitos dos quais estavam justamente onde ela criticava: em Parintins.
A repercussão foi imediata. Nomes influentes do seu próprio campo político, como Alberto Neto, Delegado Péricles, Rosses e Salazar, foram atingidos diretamente pelas declarações. Mas não só eles: ministros do STF, como Luís Roberto Barroso e Mauro Campbell, presidentes do Congresso Nacional, o senador Eduardo Braga, deputados e até os governadores do Acre e do Amazonas também foram colocados no mesmo balaio.
Para observadores da cena política local, o episódio escancarou um problema que já vinha sendo comentado nos bastidores: Maria do Carmo se isola. Não articula, não compartilha espaços, não constrói pontes. Prefere julgar de fora e se colocar em uma posição de superioridade moral, o que tem gerado desconforto crescente até dentro do seu próprio grupo.
Crítica sem proposta
Em vez de aproveitar o Festival de Parintins como uma oportunidade de aproximação com o povo — e de reconhecimento da importância cultural e econômica do evento —, Maria optou pelo confronto. Sua fala, porém, careceu de uma coisa fundamental: proposta. Apontou o dedo, mas não indicou soluções. Julgou a festa, mas não sugeriu outra forma de promover ou celebrar a cultura popular.
E essa não foi a primeira vez. Maria tem um histórico de críticas a festas populares, sempre emitidas em momentos inoportunos, nos quais a população está celebrando conquistas simbólicas importantes. Em outubro de 2024, Maria do Carmo afirmou detestar o Carnaval. O padrão se repete: enquanto o povo valoriza sua cultura, ela desdenha. Enquanto milhares se sentem representados, ela insinua desperdício. Tudo isso, vindo de alguém que vive em uma realidade muito distante da maioria das pessoas que pretende governar.
Milhões no bolso, distância do chão
Dona de uma das maiores instituições privadas de ensino do Norte, a Fametro, Maria do Carmo pertence a uma elite econômica que pouco compartilha da realidade enfrentada por grande parte dos amazonenses. Ainda assim, insiste em se posicionar como porta-voz da população mais vulnerável, sem nunca ter pisado nos mesmos degraus que ela.
O problema não é a crítica em si — é a falta de empatia e de alternativa concreta. É atacar quem valoriza a cultura popular sem apresentar uma visão melhor. É a insistência em se colocar acima de todos, como se apenas ela tivesse o direito de decidir o que é certo ou errado para o povo.
Sozinha no palanque
Em uma pré-campanha em que presença e articulação política são decisivas, Maria do Carmo parece seguir na contramão. Ao atacar aliados, autoridades e uma das maiores manifestações culturais do estado, ela se coloca em um caminho solitário — e politicamente arriscado.
A pré-candidata quis parecer diferente. Conseguiu. Mas talvez tenha conseguido por motivos errados. Em vez de ampliar conexões e dialogar com a sociedade, preferiu julgar de longe, como quem observa o povo por detrás de uma vidraça espelhada.
A política, como o Festival de Parintins, é feita de presença, emoção, proximidade e respeito à cultura. Quem ignora isso corre o risco de virar espectador de si mesmo.




