Governo Lula relança licitação de R$ 98 milhões para comunicação digital após escândalo e troca na Secom
Brasil – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva relançou a licitação para contratar três agências de publicidade digital que serão responsáveis por executar a comunicação online da Presidência da República. O novo edital, publicado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom), prevê até R$ 98,3 milhões em gastos ao longo de um ano, com possibilidade de prorrogação.
A iniciativa marca uma retomada cautelosa após o fracasso da tentativa anterior, suspensa em 2024 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) devido a suspeitas de irregularidades no processo licitatório. À época, o valor previsto era quase o dobro — R$ 197,7 milhões — e o número de agências seria maior: quatro. O vazamento prévio do resultado da concorrência, revelado por um jornalista do site O Antagonista, gerou forte repercussão e levou à anulação do processo.
O escândalo também custou o cargo do então ministro da Secom, Paulo Pimenta. Em seu lugar, assumiu Sidônio Palmeira, marqueteiro de longa data de Lula, que agora tenta blindar o novo processo de qualquer indício de favorecimento ou falha técnica. A reformulação atende a uma exigência direta do presidente, que vê nas redes sociais um campo estratégico fundamental para enfrentar a oposição de direita.
Estratégia digital mira programas sociais e engajamento
Segundo o briefing entregue às empresas interessadas, o foco da nova comunicação digital vai além da divulgação institucional tradicional. A meta é ampliar o alcance das mensagens do governo junto a públicos considerados estratégicos, como jovens, estudantes de baixa renda e beneficiários de programas sociais.
As agências deverão criar conteúdos para redes como Instagram, TikTok, Facebook, YouTube, Kwai e até Pinterest e LinkedIn. A diretriz é clara: utilizar linguagem acessível, evitar o jargão técnico e mostrar com clareza os efeitos positivos das políticas públicas.
Entre os programas prioritários da nova comunicação estão o Minha Casa Minha Vida – Classe Média, Pé-de-Meia, Bolsa Família, Farmácia Popular, Fies, Prouni, Luz do Povo e o Crédito do Trabalhador.
Além disso, o contrato exigirá que as empresas monitorem redes sociais, façam gestão de perfis oficiais e usem ferramentas de “análise de sentimento” para avaliar a recepção das mensagens e campanhas, em tempo real.
Modelo de disputa por campanhas e novo formato
O modelo adotado é o mesmo utilizado na publicidade estatal: diversas agências são contratadas simultaneamente e disputam internamente a execução de cada campanha. Essa dinâmica, apesar de ser comum em órgãos federais, foi alvo de críticas na licitação passada, justamente por suspeitas de favorecimento a grupos específicos.
Agora, o governo aposta em um formato mais enxuto e com maior controle interno, para tentar concluir o processo em até oito meses. A expectativa do Planalto é que a nova estratégia digital ajude a reverter a perda de narrativa nas redes, onde Lula enfrenta forte oposição e influência bolsonarista.
Enquanto o país discute questões como impostos, economia e segurança pública, a comunicação do governo mira likes, views e engajamento — buscando, acima de tudo, reconstruir a imagem de um Planalto próximo ao povo.