Governistas reconhecem derrota, temem anistia geral e apostam em redução de penas
Brasil – Deputados aliados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiram nesta quarta-feira (17) a derrota com a aprovação, na Câmara dos Deputados, do requerimento de urgência para análise da proposta de anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A votação, que terminou com 311 votos favoráveis e 163 contrários, revelou fissuras na base governista e abriu espaço para que a oposição tente avançar com um perdão amplo — incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Apesar da derrota, governistas apostam em uma alternativa negociada com o centrão: discutir apenas a redução das penas já impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação é de que uma anistia geral dificilmente resistiria ao veto de Lula ou ao crivo da Corte, podendo inclusive levar Bolsonaro ao regime fechado, sem possibilidade de acordos futuros para prisão domiciliar — algo considerado prioridade pelos aliados do ex-presidente.
Nos bastidores, interlocutores do Planalto afirmam que houve um compromisso entre setores do centrão e ministros do STF para limitar a pauta apenas ao abrandamento das punições. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi citado como fiador desse acordo, mas parlamentares da base de Lula demonstram desconfiança sobre sua disposição em conter a pressão bolsonarista.
A reação nas redes sociais mostrou o tom de vitória da oposição. O ex-apresentador Paulo Figueiredo, aliado de Eduardo Bolsonaro nos EUA, comemorou a aprovação da urgência afirmando que o resultado foi uma derrota direta para “Lula, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes”. Ele defendeu abertamente uma “anistia ampla, geral e irrestrita”.
Mesmo assim, governistas acreditam que o centrão tenderá a frear a ofensiva bolsonarista para evitar retaliações do STF. Um petista ouvido pela reportagem destacou que o ministro Flávio Dino, relator de ações sobre transparência das emendas parlamentares, poderia expor uma série de deputados caso os acordos com a Corte sejam descumpridos.
Durante almoço com integrantes do PDT, o presidente Lula declarou não se opor à redução de penas, lembrando sua própria experiência de 580 dias preso. Ele, no entanto, não detalhou se aceitaria que a medida atingisse apenas os condenados diretamente envolvidos nos atos de 8 de janeiro ou também personagens políticos acusados de tramar o golpe, como Bolsonaro.
A votação também acendeu um alerta político: parte expressiva da base governista não atendeu ao apelo do Planalto, mesmo diante da ameaça de revisão de cargos federais. Parlamentares ressaltam que a articulação do governo, marcada por um discurso de “nós contra eles”, não conseguiu segurar aliados em um tema de grande repercussão nacional.
Diante da incerteza sobre o avanço da anistia na Câmara, integrantes do governo apostam agora no Senado para barrar uma eventual aprovação de perdão amplo. O cálculo é que, com dois terços dos senadores em disputa em 2026, a pressão eleitoral será determinante para evitar que a pauta prospere em sua forma mais radical.