General Mário Fernandes assume autoria do documento “Punhal Verde e Amarelo”, mas nega ter compartilhado com Bolsonaro; vídeo
Brasil – Nesta quinta-feira (24), o general da reserva Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), admitiu, em interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), ser o autor do plano intitulado “Punhal Verde e Amarelo”. O documento, encontrado em seu computador, detalhava um suposto esquema para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Fernandes, no entanto, classificou o arquivo como um “pensamento digitalizado” e negou tê-lo compartilhado com qualquer pessoa.
Durante o depoimento à Primeira Turma do STF, que conduz os interrogatórios dos seis réus do segundo núcleo da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre os eventos de 8 de janeiro de 2023, Fernandes afirmou: “Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilar de dados, um estudo de situação, uma análise de riscos que eu fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar. Não foi apresentado a ninguém, nem compartilhado com absolutamente ninguém.” Segundo ele, o documento era apenas uma análise pessoal do contexto político do país, sem intenção de ser executado.
As investigações da Polícia Federal (PF), que culminaram na prisão de Fernandes em 19 de novembro de 2024, revelaram que o plano “Punhal Verde e Amarelo” foi impresso em três cópias no Palácio do Planalto em 9 de novembro de 2022. Cerca de 40 minutos após a impressão, Fernandes esteve no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência na época ocupada por Bolsonaro. Questionado sobre a possibilidade de ter apresentado o documento ao ex-presidente, o general negou veementemente: “Impossível. Eu imprimi para ler no papel, para não forçar a vista. Após isso, rasguei.” Ele atribuiu a coincidência do horário à sua rotina administrativa como secretário-executivo e negou qualquer compartilhamento do plano.
A PGR, no entanto, apontou inconsistências, destacando que o documento foi impresso em três cópias e reimpresso em outra data, com um intervalo de um mês. Fernandes alegou não se lembrar de múltiplas cópias, sugerindo que poderia ser uma “configuração da impressora”, e justificou a reimpressão como resultado de uma “nova ideia” que o levou a alterar o arquivo.
Contexto da investigação
A operação da PF, deflagrada em novembro de 2024, revelou que Fernandes e outros quatro militares, além de um policial federal, discutiam o plano em 2022 por meio do aplicativo Signal, em um grupo chamado “Copa 2022”. Cada integrante usava codinomes de países (como Alemanha, Áustria e Brasil) para evitar identificação. O grupo, composto majoritariamente por militares das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, planejava executar os assassinatos em 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O plano incluía o uso de veneno e um arsenal de guerra, com pistolas, fuzis, metralhadora e até um lança-granada. As investigações também indicaram que o ministro Alexandre de Moraes era constantemente
monitorado.
Segundo a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, Fernandes era um dos generais que mais incentivava ações das Forças Armadas para impedir a posse de Lula em 2022, no contexto de uma suposta tentativa de golpe de Estado. A PGR também aponta que Jair Bolsonaro tinha “pleno conhecimento” do plano, embora Fernandes negue qualquer envolvimento do ex-presidente.
Reações e desdobramentos
A defesa de Fernandes insiste que o plano “Punhal Verde e Amarelo” não passou de um exercício teórico, sem qualquer intenção de ser executado. A denúncia da PGR, no entanto, destaca que o documento “tramava contra a liberdade e mesmo a vida” de autoridades, utilizando codinomes como “Jeca”, “Joca” e “Juca” para se referir a Lula, Alckmin e Moraes, respectivamente.
O interrogatório de Fernandes marca a fase final da instrução do processo contra o segundo núcleo da organização investigada por tentativa de golpe. Enquanto o general busca contextualizar o documento como uma reflexão pessoal, as evidências levantadas pela PF, incluindo as comunicações no grupo “Copa 2022”, reforçam a gravidade das acusações. O STF deve julgar o caso de Jair Bolsonaro, relacionado à trama golpista, entre agosto e setembro deste ano.