“Fachada de milhões”: empresa que venceu licitação de quase R$ 1,5 milhão em Carauari tem sede em periferia de Manaus
Amazonas – Uma contratação feita pela Prefeitura de Carauari, interior do Amazonas, para a ampliação de uma unidade de atenção especializada em saúde, no valor de R$ 1.437.319,39, tem chamado a atenção por uma particularidade no mínimo curiosa: a empresa vencedora da licitação tem como endereço uma casa residencial, localizada em Manaus.
A empresa Lusada Construção e Comércio de Materiais de Construção Ltda, inscrita no CNPJ 20.290.881/0001-30, foi a escolhida como vencedora da Concorrência Pública Eletrônica nº 001/2025, conforme publicação no Diário Oficial dos Municípios do Estado do Amazonas do dia 21 de julho de 2025.
O despacho de adjudicação e homologação, assinado pelo prefeito Jose Airton Freitas Siqueira, determina a contratação da empresa com sede na Rua Sara Kubitschek, nº 715, bairro Novo Israel, em Manaus, para executar a obra vinculada ao Convênio nº 948590/2023, firmado com o Ministério da Saúde.
O que tem gerado questionamentos é que o endereço fornecido pela empresa remete a uma residência comum, em um bairro periférico de Manaus e sem sinais aparentes de atividade empresarial ou estrutura compatível com o porte da obra licitada.
A ausência de indícios de funcionamento regular levanta dúvidas sobre a capacidade técnica da empresa para executar o serviço, bem como sobre a regularidade do processo licitatório.
Especialistas ouvidos pela reportagem destacam que a execução de obras de saúde requer requisitos técnicos específicos, como engenheiros habilitados, equipamentos apropriados e histórico de prestação de serviços semelhantes — elementos que não estão publicamente acessíveis sobre a Lusada Construção até o momento.
A situação levanta uma série de questionamentos:
A empresa possui estrutura suficiente para cumprir o contrato?
Foi realizada alguma vistoria prévia no endereço informado?
Outras empresas participaram da licitação e foram desclassificadas? Por quais motivos?
O caso ocorre em meio a um cenário de alta sensibilidade quanto ao uso de recursos públicos, especialmente em municípios do interior, onde a fiscalização costuma ser limitada.
Como os recursos são oriundos do Ministério da Saúde, a contratação também entra na esfera de competência de órgãos de controle federal, como a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU).
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