EUA revogam vistos de mulher e filha de Alexandre Padilha, Ministro da Saúde de Lula
Brasil – Em mais um capítulo do crescente atrito diplomático entre Brasil e Estados Unidos, o governo norte-americano revogou os vistos da esposa e da filha, de 10 anos, do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. A medida não atingiu o próprio ministro, já que seu visto estava vencido desde 2024.
A decisão ocorre poucos dias após Washington também retirar os vistos de médicos ligados à criação do programa Mais Médicos — iniciativa lançada em 2013, durante a primeira gestão de Padilha à frente do Ministério da Saúde. Nos últimos dias, o ministro tem intensificado críticas públicas ao presidente Donald Trump, o que, segundo analistas políticos, aumenta o caráter político da decisão.
Apesar da repercussão, as autoridades norte-americanas não apresentaram justificativa formal para a revogação, limitando-se a informar que os documentos “não estavam mais disponíveis”.
Embate comercial e político
O episódio acontece em meio a uma disputa mais ampla entre os dois países. Na próxima segunda-feira (18), o Itamaraty deve enviar resposta à investigação comercial aberta por Washington contra o Brasil. O processo acusa o país de “práticas desleais”, citando o sistema de pagamentos Pix, o evento da 25 de março, casos de corrupção e desmatamento ilegal.
O governo brasileiro pretende rebater ponto a ponto as acusações, defendendo que o Pix não ameaça empresas de cartão de crédito — muitas delas sediadas nos EUA — e que a ferramenta ajudou a bancarizar milhões de brasileiros. Além disso, o Brasil deve apresentar dados sobre o combate ao desmatamento, argumentando que, mesmo com aumento de alertas na Amazônia no último ano, os índices permanecem no menor patamar da série histórica, e que a alta recente se deve principalmente a incêndios.
Pontos sensíveis e possíveis sanções
Um dos temas mais delicados nas negociações é a tarifa de 18% aplicada pelo Brasil ao etanol importado de fora do Mercosul, que os Estados Unidos querem ver zerada. O governo brasileiro afirma não estar disposto a abrir mão da proteção à produção nacional, mas admite que o assunto estará na mesa de discussões.
Para a advogada e especialista em direito internacional Hannah Gomes, o Brasil precisa manter firmeza na defesa de sua soberania, mas sem abandonar o diálogo. “O que está em jogo são investidas tarifárias e comerciais injustificadas dos Estados Unidos, e não a autodeterminação do governo brasileiro”, avaliou.
O Escritório do Representante Comercial dos EUA marcou audiência para 3 de setembro. Após ouvir os argumentos brasileiros, decidirá se mantém o entendimento de que as práticas nacionais são anticompetitivas. Caso o parecer seja desfavorável, novas sanções poderão ser aplicadas — processo que pode durar meses, mas que, no contexto do governo Trump, “nunca se sabe”, como comentou uma fonte da diplomacia brasileira.
O Ministério das Relações Exteriores ainda não se pronunciou sobre a revogação dos vistos da família de Alexandre Padilha.


