Embaixada dos EUA responde Erika Hilton e diz que só há dois sexos imutáveis: “masculino e feminino”
Mundo – A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília declarou, nesta quarta-feira (16/4), que reconhece apenas dois sexos, “masculino e feminino, considerados imutáveis desde o nascimento”. A afirmação veio em resposta a questionamentos sobre o visto emitido para a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), mulher trans, registrado com o gênero masculino, apesar de seus documentos brasileiros identificarem-na como mulher. A informação foi confirmada pela Agência Brasil.
Em nota oficial, a embaixada afirmou que não comenta casos individuais, devido à confidencialidade dos registros de visto, conforme a legislação americana. No entanto, destacou a Ordem Executiva 14168, assinada pelo presidente Donald Trump em 20 de janeiro, que estabelece apenas as opções “masculino” e “feminino” em formulários oficiais, proibindo a autoidentificação de gênero em documentos federais, como passaportes.
Erika Hilton, primeira deputada federal negra e trans do Brasil, apresentou documentos brasileiros atualizados, incluindo certidão de nascimento retificada e passaporte, que atestam seu gênero feminino. Segundo ela, um visto anterior emitido pelos EUA já respeitava sua identidade de gênero. Indignada, a parlamentar cancelou uma viagem oficial aos Estados Unidos prevista para este mês e anunciou que acionará Trump na ONU e em outras instâncias internacionais, acusando o governo americano de transfobia e desrespeito à soberania brasileira.
“Estão ignorando documentos oficiais de nações soberanas, até de uma representante diplomática, para investigar registros antigos”, criticou Hilton nas redes sociais. “Tenho meus direitos garantidos pela Constituição, legislação e jurisprudência brasileira. Se a embaixada dos EUA tem algo a dizer sobre mim, que fale baixo, dentro do prédio deles, cercado pelo nosso Estado Democrático de Direito”, completou.
A deputada também pediu que o Itamaraty convoque o embaixador dos EUA para esclarecimentos e solicitou uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O ministério avalia o pedido. Além disso, Hilton articula uma ação jurídica internacional contra o governo Trump, classificando a decisão como reflexo do “ódio que Trump nutre e estimula contra pessoas trans”.
Documentos reunidos pela equipe da parlamentar indicam que a embaixada em Brasília deliberadamente registrou seu sexo como masculino, desconsiderando seus documentos oficiais. O caso expõe tensões diplomáticas e reacende debates sobre reconhecimento de identidade de gênero em contextos internacionais, especialmente sob a política de Trump, que reforça a visão binária de gênero.