Após impasse com a Justiça Eleitoral, PT desiste de urnas eletrônicas e terá eleição interna com ‘voto impresso’
Brasil – O Partido dos Trabalhadores (PT) realizará sua próxima eleição interna, marcada para o dia 6 de julho, por meio de cédulas de papel. A decisão foi oficializada nesta quarta-feira (21) pela Executiva Nacional da legenda, após o partido enfrentar dificuldades para obter o empréstimo de urnas eletrônicas junto à Justiça Eleitoral.
A direção do PT havia solicitado formalmente os equipamentos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em março, em uma reunião com a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia. Contudo, a ministra esclareceu que a autorização para o empréstimo das urnas cabe aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) de cada estado. O resultado foi um cenário desigual: apenas 16 estados concordaram com a cessão dos equipamentos, enquanto quatro (Alagoas, Espírito Santo, Minas Gerais e Pernambuco) recusaram o pedido, e outros sete ainda mantinham negociações pendentes (Roraima, Santa Catarina, Piauí, São Paulo, Paraná, Tocantins e Acre).
De acordo com os TREs que se recusaram a liberar os equipamentos, os principais obstáculos foram preocupações com a segurança e questões logísticas. Embora os tribunais tradicionalmente cedam as urnas de forma gratuita, os custos operacionais são de responsabilidade das entidades solicitantes — o que também pesou na decisão de algumas cortes.
Diante da impossibilidade de padronizar o processo em âmbito nacional, o partido optou por um modelo único e manual. “Como a Justiça Eleitoral não teve condições de disponibilizar as urnas eletrônicas para a realização do PED [Processo de Eleição Direta] em todos os municípios do Brasil, decidimos manter nosso PED com voto em cédula”, explicou o secretário-geral nacional do PT, Henrique Fontana (PT-RS).
O PT defendia a adoção das urnas eletrônicas por entender que o sistema garantiria maior precisão e agilidade na contagem dos votos. A eleição direta deste ano será a primeira com participação ampla da militância após um intervalo de 12 anos. O partido estima que cerca de 3 milhões de filiados — aqueles que ingressaram até 28 de fevereiro deste ano — estarão aptos a votar.
A escolha definirá o novo presidente nacional do PT. O ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, desponta como o favorito na disputa, contando com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da corrente majoritária CNB (Construindo um Novo Brasil). Além dele, concorrem ao cargo Rui Falcão, deputado federal por São Paulo; Romênio Pereira, secretário de Relações Internacionais do partido; Valter Pomar, dirigente nacional; e Dani Nunes, suplente de vereadora no Rio de Janeiro.
O primeiro turno está agendado para 6 de julho e, caso necessário, o segundo turno ocorrerá no dia 20 do mesmo mês. As últimas eleições internas do partido, realizadas em 2017 e 2019, foram conduzidas por meio de um sistema híbrido, com Gleisi Hoffmann sendo eleita presidente da sigla, em ambas as ocasiões, com o apoio de Lula.
A escolha pelo voto em cédula marca um retorno às origens do PT, que busca reforçar a participação da militância na definição dos rumos do partido em um momento político crucial para a legenda.