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Amom é criticado pelos próprios eleitores após se posicionar contra fim da escala 6×1; veja

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Amom é criticado pelos próprios eleitores após se posicionar contra fim da escala 6x1; veja

Manaus – O deputado federal Amom Mandel (Cidadania) recebeu uma onda de críticas de seus próprios seguidores após se posicionar contra uma proposta de alteração na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que visa extinguir a escala de trabalho 6×1. Essa escala, vigente atualmente, assegura um dia de folga a cada seis dias consecutivos de trabalho, e a nova Proposta de Emenda à Constituição (PEC), ainda em fase de coleta de assinaturas, propõe flexibilizar essa regra. A postagem pegou tão mal que o jovem deputado federal até apagou sua publicação nesta segunda-feira (11/9) no Instagram.

No sábado (9), Mandel usou suas redes sociais para explicar sua posição contrária ao fim da escala 6×1, declarando: “Coerência acima de ideologias. Eu voto de acordo com a minha consciência em cada pauta na Câmara dos Deputados. Isso é ser independente”. Segundo o deputado, seu posicionamento reflete uma análise independente, destacando que “nem sempre dá para concordar com tudo”.

A reação de seus seguidores foi imediata. Muitos eleitores expressaram desaprovação, considerando que a posição de Mandel contradiz expectativas de melhorias nas condições de trabalho dos brasileiros. Diversos comentários pediram mais sensibilidade às dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores que lidam com jornadas exaustivas e limitadas folgas.

Apesar de a proposta ainda não ter sido oficialmente apresentada para votação na Câmara dos Deputados, o tema tem gerado discussões intensas nas redes sociais, impulsionadas pelo descontentamento de eleitores e trabalhadores que veem na PEC uma possibilidade de aliviar a carga de trabalho semanal. Além disso, outros parlamentares, incluindo parte da bancada do Amazonas, ainda avaliam sua adesão à PEC, que segue dividindo opiniões.

A proposta

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC), liderada pela deputada Erika Hilton, propõe acabar com a escala de trabalho 6×1, que atualmente exige seis dias consecutivos de trabalho com direito a apenas um dia de descanso. Hilton sugere a adoção de uma carga horária semanal de até 36 horas, mantendo o limite diário de oito horas. A deputada afirma que esta medida visa trazer mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e aumentar a produtividade sem reduzir salários.

A proposta, que ainda coleta assinaturas no Congresso, precisa do apoio de 171 parlamentares para começar a tramitar oficialmente. Caso entre em votação, a PEC enfrentará um processo rigoroso, incluindo aprovação de três quintos dos deputados e senadores em dois turnos.

Inspirada por experiências internacionais em países como Reino Unido, Islândia e Portugal, onde a redução da jornada semanal tem gerado benefícios como diminuição de estresse e burnout, a PEC busca adaptar a legislação brasileira às novas demandas por condições de trabalho saudáveis. Segundo Hilton, a mudança é essencial para que o Brasil acompanhe a tendência global de modelos mais flexíveis e sustentáveis, que valorizam tanto a saúde mental dos trabalhadores quanto o desempenho econômico.

Os argumentos contra

Embora países como Alemanha, Reino Unido e Islândia estejam experimentando a jornada de quatro dias por semana, existem várias razões pelas quais essa tendência não é ideal para o Brasil. Em países que enfrentam escassez de mão de obra qualificada, como é o caso da Grécia, adotar um regime de trabalho mais intenso foi visto como uma solução viável para manter a produtividade e evitar que o mercado de trabalho sofra impactos maiores. Recentemente, o governo grego, que passou por uma crise econômica entre 2008/18, foi na contra-mão da tendência europeia e decidiu implementar a jornada 6×1 de até 48h semanais em empresas privadas que operam ininterruptamente, como indústrias e certos serviços, com o objetivo de fortalecer setores cruciais da economia.

1. Desigualdade Econômica e Desafios de Capacitação

A realidade do mercado de trabalho brasileiro também é muito distinta das economias mais desenvolvidas da Europa. No Brasil, um número significativo de trabalhadores ainda está em busca de qualificação profissional e de acesso a melhores oportunidades de emprego. A implementação de uma jornada mais curta sem os devidos ajustes pode acabar beneficiando apenas uma pequena parcela da população, enquanto a maior parte dos trabalhadores permanece em modelos de trabalho informais ou mal remunerados.

  • Desigualdade no acesso à qualificação: A diferença no acesso à educação e qualificação profissional é um desafio significativo no Brasil. A jornada de trabalho 6×1, em muitas áreas, serve como uma forma de absorver essa grande quantidade de mão de obra, enquanto o modelo 4×3 poderia acentuar ainda mais as desigualdades ao exigir maior capacitação para justificar a diminuição das horas trabalhadas.

2. Impactos Negativos nas Pequenas Empresas

As pequenas empresas no Brasil ainda enfrentam um cenário desafiador, com margens de lucro apertadas e dificuldade de acesso a crédito e também a alta tributação. Implementar uma jornada mais curta sem a infraestrutura necessária pode resultar em dificuldades financeiras para esses empresários, que não teriam condições de manter a operação de forma eficiente sem uma compensação significativa de produtividade.

3. Cultura das 44 horas semanais

A cultura de trabalho no Brasil ainda está muito vinculada ao modelo de CLT tradicional de jornada de 44 horas semanais, com o trabalhador considerando o sábado como um dia útil. A transição abrupta para uma jornada de quatro dias pode ser vista como uma imposição que não se adapta às necessidades e à realidade de boa parte dos empresários e trabalhadores. Muitos setores podem precisar de mais tempo de adaptação e os trabalhadores, em muitas áreas, podem não estar preparados para essa mudança sem uma oferta robusta de qualificação e tecnologia.

Argumentos à favor

A redução da carga horária semanal por meio da implementação da jornada 4×3 permite aos trabalhadores mais tempo livre, o que tem um impacto direto na melhoria da qualidade de vida. Com três dias consecutivos de descanso, os trabalhadores têm a oportunidade de recuperar sua energia, melhorar a saúde mental e física, e reduzir o estresse. Isso resulta em um equilíbrio mais saudável entre vida pessoal e profissional, essencial para o bem-estar.

  • Saúde mental e física: A sobrecarga de trabalho, característica de jornadas longas como a 6×1, está associada ao aumento de doenças relacionadas ao estresse, como ansiedade, depressão e problemas cardíacos. A jornada 4×3 pode reduzir esses riscos ao proporcionar mais tempo de descanso e recuperação.
  • Mais tempo para a família e lazer: Com mais dias livres, os trabalhadores podem dedicar mais tempo à família, ao lazer e ao desenvolvimento pessoal, o que contribui para uma sociedade mais equilibrada e produtiva.

2. Aumento de Produtividade e Eficiência

Embora a jornada de trabalho 6×1 seja frequentemente associada à produtividade, estudos demonstram que jornadas mais curtas, como a 4×3, podem resultar em um aumento da produtividade. A maior quantidade de descanso proporciona aos trabalhadores maior energia, foco e motivação no ambiente de trabalho, resultando em uma performance mais eficaz nas atividades diárias.

  • Redução do cansaço e aumento da concentração: Com menos horas de trabalho e mais tempo de descanso, os trabalhadores ficam menos cansados e têm maior capacidade de concentração, o que impacta diretamente na eficiência e qualidade do trabalho realizado.
  • Menos horas extras e absenteísmo: O modelo 4×3 pode reduzir a necessidade de horas extras e os índices de absenteísmo, pois os trabalhadores têm mais tempo para se recuperar adequadamente e, portanto, são menos propensos a faltar devido ao esgotamento.

3. Melhora na Motivação e Satisfação dos Funcionários

A jornada 4×3 tende a ser vista como uma medida favorável ao trabalhador, pois oferece uma maior flexibilidade e liberdade. A satisfação no trabalho, quando associada a um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, leva a um aumento da motivação e do engajamento dos funcionários. Funcionários mais satisfeitos tendem a ser mais leais à empresa, o que reduz o turnover e os custos associados à rotatividade de pessoal.

  • Aumento da retenção de talentos: Empresas que implementam modelos de trabalho mais flexíveis e que prezam pelo bem-estar dos seus colaboradores tendem a reter seus talentos por mais tempo, economizando com a contratação e treinamento de novos funcionários.
  • Maior engajamento no trabalho: Trabalhadores que se sentem valorizados pela empresa, com um tempo maior para cuidar de si mesmos e de suas famílias, tendem a demonstrar maior comprometimento com a organização e suas metas.

4. Adaptação à Revolução Tecnológica e Mudanças no Mercado de Trabalho

A transformação digital e as mudanças nas necessidades do mercado de trabalho exigem flexibilidade nos modelos de jornada de trabalho. Muitas empresas já adotam práticas de trabalho remoto, colaborativo e com horários flexíveis, demonstrando que não é mais necessário estar fisicamente presente por longas horas para garantir a produtividade.

  • Integração com novas tecnologias: A implementação de um modelo de trabalho 4×3 pode ser complementada por tecnologias de automação e inteligência artificial, que permitem aumentar a produtividade sem sobrecarregar os trabalhadores. A redução de jornada pode ser compatível com a modernização dos processos de produção.
  • Mudança no perfil do trabalho: Com o avanço do home office e de modelos de trabalho mais flexíveis, muitas empresas já perceberam que não é mais necessário exigir uma jornada de 6 dias por semana para alcançar resultados satisfatórios. A jornada 4×3 é mais alinhada com as novas tendências do mercado global.

5. Benefícios para as Empresas: Menor Custo Operacional

Embora a jornada 4×3 envolva menos dias de trabalho, a redução de custos com absenteísmo, rotatividade e problemas de saúde dos funcionários pode compensar a adaptação a esse modelo. Além disso, a jornada mais curta tende a aumentar a motivação e a lealdade dos trabalhadores, resultando em maior produtividade e eficiência, o que pode levar a um aumento nas receitas.

  • Redução de custos com saúde: Menos horas de trabalho e mais descanso resultam em menos doenças relacionadas ao estresse, o que diminui os custos com plano de saúde, licenças médicas e tratamentos.
  • Diminuição da rotatividade: Com maior satisfação no trabalho, os funcionários tendem a permanecer mais tempo na empresa, o que reduz os custos com recrutamento e treinamento de novos colaboradores.

6. Exemplos Positivos em Outros Países

Alguns países que implementaram jornadas mais curtas ou flexíveis, como a Islândia, têm mostrado resultados positivos. A experiência islandesa, por exemplo, indicou que a adoção de uma jornada de trabalho reduzida (quatro dias) aumentou a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores, sem impactar negativamente a produção. Esse tipo de experiência serve como um modelo para outras economias que buscam melhorar as condições de trabalho.

  • Experiência em países desenvolvidos: Países como Islândia, Japão e Reino Unido estão conduzindo experimentos com a jornada de 4×3 e colhendo benefícios tanto para os trabalhadores quanto para as empresas. As lições aprendidas nesses países podem ser aplicadas no Brasil, com ajustes culturais e econômicos necessários.

De Balconista a Líder: Como Rick Azevedo Está Mobilizando o País contra a Escala 6×1

Em tempos de crescente debate sobre qualidade de vida no trabalho, o tocantinense Rick Azevedo, criador do Movimento VAT (Vida Além do Trabalho), tem se tornado uma voz poderosa contra a tradicional jornada de trabalho 6×1, que, segundo ele, prejudica a saúde e bem-estar dos trabalhadores. Ex-balconista de farmácia e influenciador no TikTok, Rick nunca imaginou que seu desabafo sobre a escala de trabalho desumana tomaria proporções tão grandes. Hoje, ele se dedica completamente à sua missão: acabar com o regime 6×1, que exige que o trabalhador trabalhe seis dias e folgue apenas um.

@rickazzevedo Até quando essa escravidão?? 😡 #clt #escala6x1 #fy ♬ som original – Rick Azevedo

A história do movimento começa de forma simples, mas com grande impacto. Em setembro de 2023, durante uma folga de Rick, ele fez um vídeo no TikTok, relatando sua insatisfação com a rotina exaustiva do trabalho, na qual o único dia de descanso – uma segunda-feira – foi cortado por uma mudança de horário inesperada. “Eu só queria um dia para descansar, e aquele telefonema cortou o meu tempo de lazer. O desabafo foi um alívio, mas logo percebi que não estava sozinho”, relata Rick.

A reação foi imediata e massiva. O vídeo viralizou, com milhares de mensagens de apoio, inclusive de advogados e trabalhadores de diversos setores que também se sentiam sobrecarregados pela jornada. Esse apoio inicial foi o que impulsionou a criação do Movimento VAT. “O nome veio para traduzir a nossa luta por uma vida além do trabalho. O que queremos é que as pessoas possam viver, e não apenas trabalhar”, explica o ativista.

Com o apoio crescente, Rick fundou um grupo de WhatsApp para organizar as ações, e logo o movimento se espalhou por todo o Brasil, com mais de 1,3 milhão de assinaturas em uma petição online em defesa da mudança. O movimento ganhou visibilidade também com o apoio da deputada Érica Hilton (PSOL-SP), que apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para abolir a jornada 6×1, proposta que já conta com mais de 85 assinaturas na Câmara dos Deputados.

O movimento se fortaleceu com a ideia de substituir a jornada 6×1 por uma escala mais equilibrada, como a 4×3, já em teste em alguns países, incluindo o Brasil. “O que buscamos é uma escala de trabalho que permita ao trabalhador ter mais tempo para sua vida pessoal e, consequentemente, mais produtividade no trabalho”, defende Rick, que também argumenta que a escala 6×1 contribui para o aumento de problemas de saúde mental, como burnout, depressão e ansiedade, que, segundo ele, são efeitos diretos de uma rotina exaustiva.

Rick tem se dedicado a levar a bandeira do VAT para as ruas. Juntamente com seus apoiadores, ele promoveu atos de panfletagem em várias cidades, incluindo Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro, e visitou universidades para divulgar a proposta de mudança. “Não queremos que as pessoas sofram mais. Queremos que elas possam ter tempo para suas famílias, lazer, saúde e até para aperfeiçoamento profissional”, afirma.

O movimento ganhou força também no cenário político, com o apoio de parlamentares como o vereador Gabriel Aguiar, de Fortaleza, e o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Mesmo assim, Rick enfrentou resistência de empresários e críticos que acusam o movimento de “afrontar a lógica do mercado”. Alguns argumentam que a implementação da escala 4×3 no Brasil seria inviável, devido ao custo adicional para as empresas, que precisariam contratar mais funcionários. Rick, por outro lado, defende que a mudança levaria a uma melhora na saúde dos trabalhadores e, consequentemente, em sua produtividade.

O debate sobre a redução da jornada de trabalho não é novo, mas o movimento VAT trouxe uma nova perspectiva ao conectar a discussão com as questões de saúde mental no trabalho, especialmente após a pandemia. Países como Bélgica, Reino Unido e Suécia já adotam práticas que proporcionam mais equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. A ideia de uma semana de quatro dias de trabalho, sem redução salarial, tem ganhado adeptos ao redor do mundo.


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