Ex-diretor do Grupo Lótus é condenado a mais de 20 anos de prisão
Brasil – A Justiça Federal no Amazonas condenou Rodrigo Faria da Silva, um dos diretores das empresas do Grupo Lótus/AmazonBank, a 20 anos e 3 meses de reclusão. A sentença, resultante de uma denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF), inclui crimes de operação de instituição financeira sem autorização do Banco Central, gestão fraudulenta, ganhos ilícitos por meio de processos fraudulentos, oferecimento de valores mobiliários sem autorização da Comissão de Valores Mobiliários, exercício de assessoria de investimento não autorizada e formação e participação em organização criminosa.
O grupo, formado por Alexander do Amaral Ribeiro Junior, Rodrigo Faria da Silva, Farley Felipe de Araujo da Silva e Jorge Luiz Guimarães Araujo, foram presos em São Gonçalo e Itaboraí. Eles eram especializados em golpes contra funcionários públicos no Amazonas, mas chegaram a expandir para outros estados.
A Operação e a Condenação
Rodrigo Faria é o primeiro a ser condenado em um esquema que movimentou pelo menos R$ 156 milhões entre 2019 e 2022, envolvendo pessoas no Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte e Roraima. Além de Rodrigo, outros sete envolvidos nas empresas do Grupo Lótus/AmazonBank foram denunciados pelos mesmos crimes após uma investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPF do Amazonas e pela Delegacia de Crimes Financeiros do Amazonas. Com o desmembramento do processo original, Rodrigo foi sentenciado primeiro, e os demais aguardam julgamento.
De acordo com a denúncia apresentada pelo MPF, o grupo utilizava várias empresas, incluindo Amazon Bank, Group Lotus Corporate Ltda e Lotus Business Center Promoção de Vendas Ltda, para realizar assessoria de investimentos fraudulentos, prometendo ganhos irreais de até 300% aos investidores. As empresas ofereciam serviços financeiros sem autorização, como abertura de conta online, cartões de crédito e seguros, além de investimentos em criptomoedas, Forex, opções binárias e operações HFT (High Frequency Trade).
Esquema Fraudulento
O esquema tinha como alvo preferencial servidores públicos, incentivados a obter empréstimos para investir nas promessas de rendimentos exorbitantes. A divulgação dos serviços era intensiva nas mídias sociais, com propagandas que incluíam falsos selos de aprovação de celebridades e relatos de riquezas conquistadas.
Segundo as investigações, grande parte dos valores investidos era desviada para contas pessoais dos envolvidos e empresas de fachada, sustentando um esquema de pirâmide financeira que necessitava de novos aportes constantes para se manter. “As investigações desvelaram a existência de uma pirâmide financeira edificada pela empresa Amazon Bank e suas coligadas, verdadeira organização criminosa especializada na prática de crimes contra o sistema financeiro, economia popular e lavagem de capitais”, diz a sentença de condenação.
Vida Luxuosa e Lavagem de Dinheiro
Os investigados ostentavam uma vida luxuosa, frequentemente exibida na internet para reforçar sua imagem de sucesso. Rodrigo Faria, por exemplo, passou de um salário de R$ 1,5 mil para uma vida de luxo, incluindo um condomínio de alto padrão em Natal, viagens internacionais e carros de luxo.
Quebras de sigilo autorizadas pela Justiça revelaram que Rodrigo movimentou R$ 2,4 milhões em suas contas pessoais e empresariais, com R$ 1,5 milhão vindo diretamente das empresas do grupo. “As movimentações financeiras do acusado evidenciam o mesmo modo de agir: recebe valores em suas contas pessoais e nas contas de suas empresas individuais e pulveriza o capital, muitas vezes repassando os valores de suas empresas individuais para suas próprias contas, lavando, assim, o dinheiro obtido com as operações financeiras ilegais praticadas pela organização”, detalha a sentença.
Impacto e Consequências
Rodrigo Faria integrava a cúpula do grupo e atuava na filial do Rio Grande do Norte, onde tinha acesso total e conhecimento sobre as atividades criminosas da organização. Ele recebia comissões de 3 a 3,2% sobre o capital movimentado em todas as filiais.
Além da pena de reclusão, Rodrigo terá de pagar o equivalente a 200 dias-multa. Ele será considerado inocente até o trânsito em julgado da ação, quando não houver mais possibilidade de recurso.
A ação penal, registrada sob o número 1027506-63.2023.4.01.3200, marca um importante avanço na luta contra crimes financeiros no Brasil, destacando a importância da atuação conjunta entre órgãos de investigação e a Justiça para combater esquemas fraudulentos que prejudicam a economia popular e a integridade do sistema financeiro.