Trump e Putin se encontram pela 1ª vez nesta sexta desde a guerra da Ucrânia
Mundo – Em um cenário carregado de tensão e simbolismo, os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin se encontram nesta sexta-feira (15) no Alasca, marcando o primeiro tête-à-tête entre os dois desde que Trump reassumiu a Casa Branca.
O encontro acontece em um momento crítico da guerra na Ucrânia, com os Estados Unidos tentando retomar as rédeas da diplomacia global — e a Rússia testando até onde pode ir sem romper de vez com o Ocidente.
A reunião será breve, mas intensa: apenas Trump, Putin e seus intérpretes estarão presentes em sala fechada. A conversa ocorre às 16h30 (horário de Brasília) em Anchorage, cidade mais populosa do Alasca. Logo depois, está prevista uma coletiva conjunta às 20h30 — o que pode dar o tom das próximas etapas.
Entre pressão e diplomacia
Para Trump, a reunião representa uma chance de mostrar força e pragmatismo. Ele declarou ao longo da semana que sua prioridade é “encaminhar o fim da guerra na Ucrânia”. Chegou a dizer que, se Putin se mostrar receptivo, proporá uma cúpula com a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Ao mesmo tempo, o tom do republicano alterna entre a conciliação e a ameaça: Trump afirmou que está confiante de que Putin quer um acordo, mas alertou que, se não houver progresso, a Rússia enfrentará “consequências muito severas”.
Do outro lado da mesa, o Kremlin preferiu ampliar o leque da conversa. Segundo assessores de Putin, a reunião será usada para discutir não só a guerra, mas também oportunidades de cooperação econômica, espacial e tecnológica com os EUA — áreas congeladas desde o início da invasão russa à Ucrânia, em 2022.
Europa observa com desconfiança
O movimento em Anchorage é observado com cautela pelos aliados europeus. Nesta semana, Zelensky esteve em Berlim para participar de uma videoconferência com Trump, na presença de líderes da França, Reino Unido, Itália, Polônia, Finlândia, além do chefe da União Europeia e do secretário-geral da OTAN, Mark Rutte.
A mensagem de Zelensky foi direta: “É preciso exercer pressão sobre a Rússia por uma paz justa”. Os europeus temem que Trump busque uma solução rápida, talvez conveniente para Washington, mas que deixe Kiev em desvantagem diplomática ou territorial.
Anchorage: geopolítica, história e cálculo
A escolha do Alasca como sede do encontro não foi casual. Logisticamente, é o ponto mais próximo da Rússia em solo americano — separados apenas pelo Estreito de Bering. Historicamente, o estado já pertenceu ao Império Russo, antes de ser vendido aos EUA em 1867.
Anchorage também abriga a base militar Elmendorf-Richardson, um dos símbolos do poder estratégico americano na região, herança direta dos anos de Guerra Fria. O local serve, portanto, tanto à narrativa de contenção quanto à de reaproximação.
Há ainda um elemento jurídico: Putin enfrenta um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra na Ucrânia. Como os EUA não são signatários do TPI, não têm obrigação de prendê-lo, o que torna o território americano uma rara zona segura para sua diplomacia presencial.
Sanções suspensas e janelas abertas
Para viabilizar a visita, o Departamento do Tesouro dos EUA suspendeu temporariamente algumas sanções, permitindo o desembarque da comitiva russa. A manobra revela o quanto os dois lados estão dispostos a, ao menos, conversar.
Por ora, não há promessa de acordo — nem sobre a Ucrânia, nem sobre tarifas, nem sobre cooperação bilateral. Mas o gesto de sentar à mesa, frente a frente, já sinaliza um possível rearranjo na diplomacia global.


