Operários hispânicos de hotel de Trump rechaçam sua campanha
WASHINGTON – Na capital americana, não se vê publicidade eleitoral, mas, como acontece em diversos aspectos desta campanha, Donald Trump é a exceção. Um grande cartaz com o nome de Trump e o antetítulo “Abertura em 2016” ocupa a fachada do hotel que o magnata está construindo num ponto privilegiado de Washington: a avenida que conecta o Capitólio à Casa Branca.
O hotel, próximo à residência presidencial, é um símbolo do poder e das aspirações do bilionário. No entanto, Trump, líder na corrida republicana, é bastante impopular. A maioria dos trabalhadores na construção são imigrantes latino-americanos, incomodados com a xenofobia do magnata.
— Acho que estão contra ele porque o veem como um racista — diz Francisco Jiménez, um imigrante guatemalteco de 47 anos, que se declara mais próximo dos republicanos que dos democratas. — Não gosto dele como candidato. Ele acredita que com seu dinheiro pode comprar tudo, mas a democracia não funciona assim. É preciso tomar decisões com o Congresso.
Apesar de sua rejeição a Trump, Jiménez desconfia das promessa de ajuda aos imigrantes feitas pelos democratas:
— O período de Obama no poder teve o maior número de latinos enviados de volta à América Central — afirma, em alusão às deportações realizadas pelo governo democrata.
O assunto é recorrente entre os quase 750 operários latinos que trabalham na obra e, segundo Jiménez, operários anglo-saxões também demonstram receio em relação ao republicano. Mas alguns o apoiam.
— Sou seguidor de Trump — afirma um operário branco de 50 anos, que não quis dar nome.
Outros empregados latinos, que pedem anonimato, também declaram apoio ao republicano.
Avaliado em US$ 200 milhões, o hotel, a três quadras da Casa Branca, é uma arma eleitoral de Trump: sua localização privilegiada o coloca na rota do tradicional desfile de posse do próximo presidente.
Selfies com o patrão
Jiménez admite que é estranho trabalhar no hotel de Trump quando discorda fortemente de suas propostas, mas afirma não ter opção.
— É só trabalho. O chefe me mandou trabalhar aqui, e essa é uma forma de ganhar dinheiro — alega. — O simples fato de alguém estar trabalhando aqui não quer dizer que pertença a seu partido ou que esteja de acordo com o que ele diga ou faz.
Pouco antes de terminar sua pausa para o almoço, Jiménez conversa animadamente com colegas. Todos são imigrantes e criticam Trump. Um dele, porém, confessa que todos, incluindo os latinos, receberam-no de barços abertos quando ele visitou a obra.
— Todos tiraram fotos com ele, mesmo os que não o reconheceram — diz o operário.