Chefe de governo de união é hostilizado por facções ao chegar à Líbia
TRÍPOLI — O chefe do governo de união nacional da Líbia, Fayez al-Sarraj, foi recebido com ameaças ao chegar à capital Trípoli nesta quarta-feira. As autoridades rivais do território pediram que o novo primeiro-ministro — designado pelas Nações Unidas para pôr fim à disputa pelo controle da Líbia — se retirasse do país. O mais recente episódio da crise política local foi seguido de tiroteios intermitentes de origem desconhecida durante a noite.
A chegada de Sarraj acendeu o temor de novos confrontos entre os partidários das autoridades não reconhecidas do país e aqueles em favor do governo de unidade. Acertado em um pacto intermediado pela ONU, este novo governo tem o objetivo de colocar fim ao conflito entre os dois grupos rivais que comandam a Líbia: um com sede em Trípoli e outro em Tobruk.
— Aqueles que entraram ilegalmente devem partir ou voltar atrás, caso contrário, vão arcar com as consequências legais — disse, em um discurso televisionado, Khalifa al-Ghwell, chefe do governo não reconhecido, em referência a Sarraj.
Já o vice-presidente do parlamento não reconhecido, Awad Abdelsadeq, afirmou que Sarraj e os membros do Conselho Presidencial entraram ilegalmente no território líbio com a ajuda de soldados e alguns traidores.
Nesta quarta-feira, as principais estradas foram bloqueadas por membros de grupos armados com fuzis kalashnikov. Em pânico, os moradores locais voltaram rapidamente para casa e o comércio fechou as portas.
Sarraj chegou com seis membros da entidade à base naval de Trípoli a partir da Tunísia. Ele foi foi recebido por altos membros da Marinha e autoridades locais e, em um breve discurso, prometeu fazer da reconciliação e da resolução da crise de segurança suas prioridades.
Em comunicado, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, defendeu a importância simbólica da chegada de Sarraj:
“A chegada do presidente do Conselho à capital representa uma oportunidade única para os líbios de todos os bandos para se unir e se reconciliar”, disse Mogherini.
NAÇÃO FRAGMENTADA
A Líbia enfrenta um período de turbulência política desde a derrubada e o assassinato do ditador Muammar Gaddafi em 2011. Desde 2014, as divisões internas vêm se acentuando, dividindo a nação em dois governos com seus respectivos parlamentos. Além disso, um grupo local afiliado ao Estado Islâmico, que já reclamou a autoria de vários ataques letais no país, tenta avançar sobre o territorio e aumentar seu poder sobre as instalações petrolíferas da Líbia.
O plano de paz e união proposto pela ONU foi assinado em dezembro, mas acabou sendo alvo de muitas críticas e vetos dos dois lados — enquanto ambos consideraram haver excesso de representatividade do grupo rival. A facção islamista Aurora Líbia, que domina Trípoli desde 2014, já havia se comprometido a integrar um novo governo.
As nações ocidentais vêm pressionando líderes locais a formar o governo de união nacional na Líbia, com o objetivo de conter o avanço jihadista sobre o país.