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Bélgica, o coração do jihadismo europeu

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BRUXELAS – Se por um lado a Bélgica é o coração da diplomacia e da política europeias, com a capital Bruxelas sediando as principais instituições do continente, ao mesmo tempo o país se tornou, com o passar dos anos, o principal abrigo de extremistas islâmicos e também o maior exportador de jihadistas para a guerra civil síria. Com uma população de 11,2 milhões de pessoas e com mais de 500 cidadãos em algum momento viajando ao Iraque e à Síria nos últimos anos, para se unir a grupos fundamentalistas — o principal deles, o Estado Islâmico (EI) — a Bélgica se tornou o país com mais jihadistas per capita da Europa: 45 para cada milhão de habitantes.

É uma proporção duas vezes maior do que a registrada na França e quatro vezes mais do que no Reino Unido. Comparativamente, cerca de 800 extremistas viajaram para a Síria a partir da Alemanha, um país com 81 milhões de habitantes — dez para cada milhão de pessoas. Segundo um minucioso levantamento do historiador e pesquisador belga Pieter van Ostaeyen, mestre em Estudos Islâmicos pela Universidade Católica de Leuven, na região de Flandres, 562 jihadistas belgas já deixaram o país.

O entranhamento do fundamentalismo islamista na Bélgica remonta a 20 anos atrás, quando uma investigação da polícia belga descobriu um documento em árabe, do argelino Grupo Armado Islâmico: foi o primeiro manual da jihad descoberto em toda a Europa. Em 2001, dois dias antes dos ataques de 11 de setembro ao World Trade Center, em Nova York, o comandante afegão Ahmed Shah Massoud, considerado o último militar a combater o Talibã, foi morto por dois terroristas, que entraram no Afeganistão com passaportes belgas.

Discriminação que promove radicalização

Mais recentemente, em maio de 2014, Mehdi Nemmouche, o terrorista que matou quatro pessoas no Museu Judaico de Bruxelas, trouxe à tona o distrito de Molenbeek, nos subúrbios da capital belga. Ele havia morado na região — a mesma onde também vivia Ayoub el-Khazzani, que foi preso em agosto de 2015, com fuzis, quando se preparava para atacar um trem do serviço Thalys, que liga Amsterdã a Paris. Estima-se que 6% da população belga sejam formados por muçulmanos, número que sobe para 25% em Bruxelas e 40% dos 94 mil habitantes de Molenbeek, com alguns bairros do distrito com 80% de seguidores do islamismo. A taxa de desemprego no distrito beirando os 30%, ainda maior entre imigrantes e jovens, e o racismo verificado contra muçulmanos são apontados por especialistas para Molenbeek ter se tornado o celeiro do jihadismo belga e, por conseguinte, da Europa.

— A maioria dos muçulmanos é moderada, mas há os grupos radicalizados com conexões com o salafismo. Estes falam aos jovens que eles não são europeus, ou belgas, e que são “nós contra o resto” — explica o jornalista belga Mehmet Koksal, especialista na cobertura sobre o universo islâmico em Bruxelas.

Além da questão étnica e religiosa, a Bélgica tem a reputação de ser um país onde se pode facilmente comprar armas ilegais. O combate ao tráfico de armamentos, bem como às drogas e ao crime organizado, é tido como ineficiente. Além disso, o país tem um aparato de segurança considerado pequeno, tanto militar quanto policial. A organização antiterrorismo belga Ocad informou que mais de 800 pessoas estão no radar dos serviços de inteligência belgas, no que diz respeito à monitoração de combatentes e terroristas estrangeiros.

— Depois do alívio com a prisão de Salah Abdeslam, as pessoas esperavam uma espécie de trégua — afirmou ontem a vice-prefeita de Molenbeek, Sarah Turine, ao jornal britânico “The Guardian”. — Mas percebemos agora que Abdeslam não foi o último da célula. Ele poderia ser o fim da rede que atacou Paris, mas eles (o Estado Islâmico) têm muitas células e redes, e não apenas uma.





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