Brasileiro é a 7ª pessoa no mundo a ser curado do HIV com tratamento inovador da Unifesp
Brasil – Um brasileiro conhecido como “Paciente de São Paulo” entrou para a história da ciência como a sétima pessoa no mundo a atingir a chamada “cura funcional” do HIV. Diagnosticado em 2012, ele seguiu por anos o tratamento convencional com o coquetel antirretroviral, até que em 2016 aceitou participar de uma pesquisa experimental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O estudo, liderado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, combinou o coquetel tradicional a três outros medicamentos que “acordam” o vírus adormecido, permitindo que o próprio tratamento o elimine. A técnica, que também envolveu uma terapia celular semelhante a uma vacina personalizada, mostrou resultados inéditos: após três anos, o HIV desapareceu do sangue do paciente.
“Eu achava impossível. Pedi para refazer o exame na frente da médica e das enfermeiras. Quando o resultado deu negativo, todas começaram a chorar. Repetimos o teste e continuava sem o vírus. Eu não tinha mais HIV no sangue”, relatou o paciente em entrevista ao programa Fantástico.
Dois anos sem medicação
Após a suspensão da terapia, o voluntário passou dois anos sem tomar medicamentos. Nesse período, notou mudanças significativas em sua saúde: “Engordei, minha pele mudou, parecia um bronzeado novo. Era como se meu corpo tivesse renascido”.
De acordo com o dr. Diaz, o caso foi além da simples supressão do vírus: “Além da carga viral indetectável, os anticorpos do HIV desapareceram, o que indica uma resposta ainda mais profunda, próxima da cura”.
Pesquisa pioneira
O estudo da Unifesp é o primeiro no mundo a alcançar resultados tão promissores apenas com medicamentos, sem necessidade de transplantes de medula ou intervenções de alto risco. Dois outros voluntários também apresentaram controle do vírus sem medicamentos, embora por períodos menores.
Apesar do avanço, especialistas preferem adotar termos como “remissão” ou “cura funcional”, já que o HIV ainda pode existir em pequenas quantidades escondidas no organismo.
“Manter a carga viral indetectável, sem progressão da doença e sem transmissão, mesmo sem o uso contínuo de medicamentos, já é uma revolução”, afirmou Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Esperança para milhões
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 800 mil brasileiros vivem com HIV, recebendo tratamento gratuito pelo SUS. Contudo, cerca de 50 mil novas infecções são registradas a cada ano, e quase 10 mil pessoas ainda morrem em decorrência da Aids.
Os pesquisadores acreditam que os resultados obtidos podem abrir caminho para novos protocolos de tratamento mais eficazes, com maior alcance e menos efeitos colaterais. “A ciência avança em etapas. Nossa meta agora é ampliar os estudos, ajustar as combinações e confirmar os resultados em um número maior de pacientes”, disse o dr. Diaz.
Novas formas de prevenção
Enquanto a cura ainda é alvo de estudos, o Brasil já dispõe de injeções preventivas contra o HIV, com aplicação bimestral e eficácia de até 96%. O medicamento está disponível em farmácias, mas ainda não foi incorporado ao SUS devido ao alto custo.
“O futuro é promissor. Precisamos ter paciência, porque a ciência tem seu tempo, mas cada avanço como este nos aproxima de um mundo sem HIV”, concluiu Barbosa.