Artistas relembram ditadura para criticar impeachment no Planalto
BRASÍLIA – Em ato organizado às pressas e transferido para o menor salão de cerimônias no Palácio do Planalto, artistas e intelectuais “em defesa da democracia” foram unânimes, nesta quinta-feira, em relembrar os tempos de ditadura, época lembrada pela presidente Dilma Rousseff na abertura de seu discurso.
A cerimônia aconteceu no Salão Leste do palácio, o menor para eventos. As últimas cerimônias no Planalto, como a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – derrubada pela Justiça logo depois -, o ato de juristas “pela legalidade em defesa da democracia”, o anúncio de investimentos para a zika, nova fase do Minha Casa Minha Vida e mais vagas para o Pronatec, foram no Salão Nobre. O ato com os juristas e a posse de Lula tiveram mais de 400 pessoas.
Ontem, em nova fase do Minha Casa Minha Vida, Dilma desceu a rampa do Salão Nobre aguardada de perto por militantes uniformizados e com bandeiras. Geralmente, essa área é isolada. Como hoje haveria o ato com os artistas, o salão maior ficou arrumado, mas não foi utilizado. As presenças de artistas e intelectuais demoraram a se confirmar no fim desta quarta, e o palácio optou por fazer uma cerimônia menor.
Entre os presentes, estavam Letícia Sabatella, Beth Carvalho, Anna Muylaert, Sérgio Mamberti, Fernando Morais, Raduan Nassar, Leonardo Avritzer e Aderbal Freire Filho. Apareceram em vídeos Tico Santa Cruz, Danny Glover, Miguel Nicolelis e Maria da Conceição Tavares.
A presidente mostrou-se à vontade e animada durante o ato. No fim, recebeu vários manifestos de apoio, de várias entidades artísticas. Todas as falas lembraram a ditadura e criticaram o “golpe”, o Congresso Nacional e a imprensa. Na abertura de seu discurso, Dilma relembrou de quando foi presa no regime militar.
— Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje sem qualquer pudor como detentores da ética, mas serão execrados amanhã. Não tenho dúvida — afirmou o escritor Raduan Nassar.
A atriz Letícia Sabatella reconheceu que é oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff e que teve “decepções”. Mesmo assim, criticou o “golpe”.
— Esse ódio é fomentado por um plano maquiavélico de tomada de poder na marra — disse Letícia.
Beth Carvalho afirmou que o que uniu os presentes no ato desta quinta-feira foi o “amor”.
— É o amor que nos une aqui hoje. O contrário disso, a falta de amor, é o que faz as pessoas simplesmente ignorarem que 40 milhões de pessoas saíram da miséria — disse Beth Carvalho, e completou: – É o amor que faz com que Dilma Rousseff se levante todos os dias de cabeça erguida para lutar por um Brasil mais justo.
O cineasta Aderbal Freire Filho fez relações do momento político atual com aspectos do teatro. Falou em “farsa”, “comédia de costumes” e “teatro de marionetes”, no discurso mais leve do encontro.
— Farsa é quando há personagens ridículos, fanfarrões, enterrados até o pescoço em corrupção, herdeiros de uma tradição política antiga de conveniência, de escândalos nunca apurados — disse.