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Neymar e Felipe Neto se envolvem em polêmica com site de apostas: “Blaze tá roubando geral”

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Neymar e Felipe Neto se envolvem em polêmica com o site de apostas: "Blaze tá roubando geral"

Brasil – Uma polêmica que começou na última terça-feira (30), bateu 1,9 milhão de visualizações um vídeo do influencer Daniel Penin no qual ele revela diversos segredos da Blaze, investiga os nomes por trás do cassino online e acusa Neymar, Felipe Neto e Jon Vlogs de ganharem com perdas dos clientes.

O youtuber afirma que recebeu uma oferta de R$ 300 mil para fazer uma publicidade de uma casa de jogos de azar, mas que declinou e resolveu fazer um vídeo crítico.

A Blaze está registrada como uma empresa do grupo Prolific Trade, que tem sede em Curaçao, um paraíso fiscal na América Central. Foi essa companhia que enviou uma notificação extrajudicial para o Portal do Bitcoin, como mostrado em reportagem publicada no dia 18 de agosto de 2022.

Mas Penin abre uma outra oinha de investigação. A ferramenta SimiliarWeb aponta que a companhia dona da Blaze é a Kayak Interactive.

“Consegui informações através da base de dados do S&P Capital. Lá eu descobri que a Kayak é uma empresa de jogos online que fez uma série de fusões e é dona de um monte de empresas”, afirma Penin.

E aí começa um novo emaranhado: confomre investigação do youtuber, a Kayak pertece a uma empresa chamada iWin, que também faz parte de um grupo de fundos de investimento.

No LinkedIn, um perfil fechado, sem nem o nome estar aberto, aparece como dono da Kayak. A única informação é que se trataria de um argentino.

O youtuber conclui o vídeo admitindo que não tem informações suficientes para afirmar quem é o verdadeiro dono da Blaze e que não conseguiu associar nomes de pessoas reais ao emaranhado de empresas que parecem ter relação com a Blaze.

Sem representantes nem responsáveis legais no Brasil, o cassino online Blaze tomou de assalto a internet brasileira e vem sendo promovido por estrelas como o jogador de futebol Neymar Jr. e o influencer Felipe Neto.

Um levantamento da rede global de jornalistas que investigam crimes transnacionais OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), em parceria com o Portal do Bitcoin, encontrou 15 processos judiciais contra a Blaze em oito estados brasileiros: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso e Pernambuco.

Embora seja sediada em Curaçao, os milhões de acessos mensais da Blaze vêm do Brasil. Do futebol ao Youtube, os maiores influenciadores do país são patrocinados pelo Cassino, que hoje estampa a camisa do Santos e esteve presente na do Botafogo em 2022.

O Judiciário tem sido procurado por brasileiros que reclamam que a empresa tomou decisões arbitrárias com o dinheiro que eles depositaram na plataforma. Mas as cortes se veem de mãos atadas: como a sede é em um país caribenho, é quase impossível acioná-la do Brasil. Mesmo encontrar um rosto por trás do cassino é difícil: os responsáveis estão enredados em uma trama de empresas dentro de empresas.

Cliente da Blaze e R$ 200 mil
Um caso emblemático do ingrato trabalho que é processar a Blaze está em um caso que corre na Comarca de Bertioga (Processo 1003193-09.2022.8.26.0075 TJ-SP).

O consumidor entrou com uma ação alegando que a empresa sumiu com sua aposta após ter vencido em setembro de 2022 uma partida no jogo Crash no qual o prêmio era de R$ 199 mil.

Ao ver que havia vencido a aposta, o cliente filmou sua tela “por conta do calor da emoção”, como narra o advogado na petição inicial do processo. Porém, não foi possível sacar o valor. Foi quando os problemas começaram.

O usuário buscou o atendimento ao cliente e a situação tomou um rumo mais sombrio. O autor afirma, na ação judicial, que a Blaze o fez aguardar no chat de suporte ao cliente enquanto desaparecia com os vestígios de que a aposta tinha ocorrido.

A petição narra o momento: “O atendente que pediu um minuto e logo em seguida pediu para que o autor buscasse os dados referentes à aposta, em uma opção do jogo onde ficam os registros de IDs das apostas. Ao procurar os dados da aposta vencedora, nada encontrou, como se, deliberadamente, tivessem apagado do sistema, tais informações, no intuito de lesar o apostador, já que a quantia em questão era significativamente alta”.

O cliente apresenta como prova o vídeo no qual demonstra seu saldo na carteira da Blaze e a tentativa frustrada de sacar o dinheiro. Como única prova do processo, a equipe de defesa pede que seja feita uma perícia no vídeo.

Processando a Blaze
O advogado responsável pela causa, Ronaldo Patrocínio, pede que a companhia seja citada pelo e-mail [email protected], que acredita ser o único caminho possível:

“A gente tem um problema: como vamos fazer a citação? Por carta rogatória [um instrumento jurídico de cooperação entre dois países]? Dentro do Direito, o Judiciário não pode deixar de apreciar nenhuma causa. Ela precisa ser julgada se as condições estiverem reunidas dentro do processo”, diz Patrocínio em conversa com a reportagem.

Blaze é Brasil

O foco da Blaze é captar clientes brasileiros. Dados do site de análise de tráfego online SimilarWeb mostram que o site da empresa teve 41 milhões de acessos em abril — dos quais 98,93% vieram do Brasil. Mesmo assim, não foi possível encontrar nenhum representante no Brasil nem um CNPJ.

A estratégia da empresa é centrada em ocupar espaços no mercado de influenciadores — dezenas deles. Inclusive alguns dos maiores do país: Neymar e Felipe Neto. Os dois concentram 78 milhões de seguidores no Twitter, 225 milhões no Instagram e 45 milhões no Youtube.

O Neto é muito mais engajado na divulgação da Blaze. Foram seis publicações em seu Instagram sobre o cassino desde o dia 25 de janeiro, além de promover sessões de apostas ao vivo na plataforma de streaming Twitch.

Labirinto por trás do cassino

Não está claro quem está por trás da Blaze. Em seu site, há a indicação de que o cassino é da Prolific Trade, sediado em Curaçao. Contudo, documentos obtidos pelo OCCRP mostram um labirinto de empresas dentro de outras empresas.

No primeiro registro comercial, o que aparece é outra empresa, também baseada no país caribenho, como diretora estatutária: a eMoore N.V. Somente neste documento que se chega ao nome de uma pessoa: o holandês George F.J.M. Van Zinnicq Bergmann, que figura como diretor.

A processadora de pagamentos global da Blaze é a Horangi Trading Limited, que tem sede no Chipre. O diretor é Hans Rurger Kriek, que representa outras 133 companhias.

Problemas para trazer cassino aos tribunais

O problema mais comum de quem tenta processar a Blaze é conseguir citar oficialmente a empresa em um processo judicial. O cassino não tem sede e nem uma presença oficial no Brasil.

Os casos em geral envolvem valores pequenos e, por isso, os clientes propõem a ação em Juizados Especiais Cíveis – que são tribunais onde o trâmite é mais rápido. Porém, as ações contra empresas fora do Brasil, que envolvem disputa com outro país, são tão complicadas que muitas cortes nem começam o processo.

Em um caso do tipo, julgado em Pernambuco, o juiz José Carvalho de Aragão Neto, do 3º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo de Jaboatão dos Guararapes, extinguiu a ação por considerar inviável a citação da Blaze “por ter esta sede no exterior”.


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