Ju Oliveira, ex-assistente do The Noite, fala pela 1ª vez sobre acusação de estupro contra Otávio Mesquita; veja vídeos
Brasil – Nesta terça-feira (15), a humorista Julia Oliveira, ex-assistente de palco do programa The Noite (SBT), quebrou o silêncio sobre a denúncia de estupro contra o apresentador Otávio Mesquita. Em um vídeo emocionado publicado nas redes sociais, Julia detalhou, pela primeira vez, o episódio ocorrido durante uma gravação do talk show apresentado por Danilo Gentili, onde Mesquita foi convidado especial.
Com a voz embargada, Julia relatou que, durante a gravação, Mesquita a tocou de forma não consentida, agarrou-a à força e simulou atos sexuais no palco, diante das câmeras. “Ele chegou com as mãos na minha bunda, no meu peito. Eu tentei afastá-lo, mas ele não parava. Quando desvirou, foi pior: me agarrou, colocou minha cabeça entre as pernas dele. Aquilo foi uma violência”, desabafou. Segundo ela, nada foi combinado previamente, contrariando a versão inicial de Mesquita, que classificou o ocorrido como uma “brincadeira”.
Julia explicou que, na época, evitou falar publicamente por estar abalada psicologicamente. No mesmo dia do incidente, ela reclamou com Danilo Gentili, o diretor e a produção do programa. Como medida, a equipe decidiu não convidar mais Mesquita para o The Noite. No entanto, Julia revelou que o apresentador continuava aparecendo nos bastidores do SBT sem aviso, e a produção a “escondia” trancando-a no banheiro. “Isso aconteceu mais de dez vezes. Ele invadia, e eu era tratada como a errada, como se fosse a criminosa”, afirmou.
A humorista também criticou a falta de suporte do SBT. Segundo ela, a emissora, comandada por mulheres em cargos de liderança, não tomou providências efetivas. Julia formalizou a denúncia contra Mesquita no Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em março de 2025, após deixar o programa em 2024. Ela relata que, após a denúncia, sua carreira na emissora foi prejudicada: o programa matinal que apresentava foi cancelado, e ela acabou dispensada. “Quando questionei sobre a denúncia, me trataram mal e ofereceram apenas seis meses de convênio”, disse.
A coragem para tornar o caso público, segundo Julia, veio após observar, em 2020, a defesa de Danilo Gentili à comediante Dani Calabresa, que denunciou abusos de Marcius Melhem. “Eu pensei: ‘Danilo, isso aconteceu debaixo do seu nariz. Por que não me defendeu assim?’ A comoção dele é seletiva?”, questionou. A ex-assistente também revelou que, por medo de perder o emprego, recusou inicialmente levar o caso ao Conselho do SBT.
Os advogados de Julia argumentam que a exibição da cena em rede nacional intensificou a humilhação sofrida. Mesquita, por sua vez, pediu desculpas “caso tenha sido mal interpretado”, mas negou as acusações e anunciou que processará Julia. A denúncia segue em investigação no MP-SP.
O caso reacende o debate sobre assédio e violência no ambiente de trabalho, especialmente na indústria do entretenimento, onde denúncias de abusos têm ganhado visibilidade. Julia finalizou seu depoimento reforçando sua busca por justiça: “Eu só fui à Justiça porque o SBT não fez nada. Não vou me calar.”
O outro lado
Otávio Mesquita, investigado pelo MP-SP, defendeu-se em vídeos no Instagram no dia 27 de março. Ele classificou o incidente como uma “brincadeira” da época, mas reconheceu que, sob a perspectiva atual, a atitude foi inadequada. “A distância entre o que aconteceu e um estupro é gigantesca. Fiquei muito chateado com a acusação”, disse, anunciando que acionará a Justiça contra Julia. Mesquita pediu desculpas “caso tenha sido mal interpretado” e afirmou confiar na apuração jurídica.
O caso ganhou destaque no Programa do Ratinho (SBT) em 31 de março. O apresentador Carlos Massa, o Ratinho, opinou que a atitude de Mesquita “extrapolou o bom senso”, mas considerou “excessivo” classificá-la como estupro. “Quem vai decidir é a Justiça. Ninguém pode julgar o que ela sentiu, mas parece oportunismo pelo tempo que passou”, ponderou, destacando que Julia poderia ter pedido para cortar a cena, já que o programa era gravado. “Tenho certeza de que Danilo e a direção teriam atendido”, afirmou. Ratinho concluiu alertando sobre os riscos de acusações graves: “É preciso cuidado para não transformar um ato impróprio em estupro. Que se apure os fatos.”
Contexto e investigação
A denúncia, registrada pelo advogado Hédio Silva Jr., aponta que a lei penal brasileira considera atos libidinosos com violência como estupro, mesmo sem penetração. O advogado destacou à imprensa que fatores como silenciamento cultural e medo de retaliação, além de questões raciais, podem ter atrasado a denúncia de Julia. Ele também afirmou que ela buscou apoio do SBT em 2024, sem sucesso, o que a levou a acionar o MP-SP.
O vídeo do episódio, ainda disponível no YouTube, mostra Mesquita tocando Julia e simulando movimentos sexuais enquanto ela o ajudava a retirar equipamentos de segurança. A promotoria de Justiça Criminal de Osasco analisa o caso.