Presidente do Inmetro é investigado por uso de carro alugado de empresa com contratos suspeitos
Amazonas – O presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), o amazonense Márcio André Brito, está sendo investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por supostas irregularidades envolvendo o uso de um veículo alugado da empresa Kaele, conhecida por contratos milionários com órgãos públicos e um histórico controverso na administração pública.
A investigação, revelada inicialmente pela coluna do jornalista Lauro Jardim, gira em torno do uso de um Toyota Corolla 2023 registrado em nome da Kaele, mas utilizado por Brito em Brasília. O ponto central é a suspeita de uso indevido de bem locado com recursos públicos para fins pessoais. Embora o presidente do Inmetro afirme que o aluguel do carro é custeado com recursos próprios, o caso levantou questionamentos pela ausência de sede da empresa na capital federal e pela dificuldade de se contratar o serviço diretamente por canais oficiais da locadora.
Márcio Brito sustenta que o contrato com a Kaele foi feito em caráter pessoal e não tem relação com sua função no Inmetro. No entanto, atendentes da própria empresa confirmaram que a locadora só atua em Manaus (AM) e Boa Vista (RR), sem presença ou operação em Brasília – o que põe em xeque a versão do presidente.
Relações passadas suspeitas
Além das dúvidas quanto ao uso do veículo, a proximidade de Brito com a Kaele durante sua gestão anterior como diretor do Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (IPEM-AM) também está no radar do MPF. Documentos revelam que, em 2022, ele assinou a prorrogação de um contrato de R\$ 204 mil com a empresa. Mesmo após sua saída do órgão, os vínculos com a Kaele continuaram: atualmente, o IPEM-AM mantém um contrato para locação de 17 veículos, com custo anual estimado em quase R$ 500 mil.
A situação levanta suspeitas de possível conflito de interesses, já que a mesma empresa que fornecia veículos ao IPEM-AM agora aluga um carro ao atual presidente do Inmetro.
Empresa envolvida em polêmicas
A Kaele acumula um histórico questionável em contratos com o setor público. No Amazonas, foi alvo do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) por indícios de superfaturamento em acordos com a prefeitura de Coari. Em Roraima, enfrentou medidas cautelares do TCE local por irregularidades em licitações ocorridas entre 2014 e 2016. Apesar disso, a empresa segue ativa em processos licitatórios com outros institutos de metrologia estaduais, tendo contratos em vigor na Bahia, Mato Grosso, Piauí e Ceará.
Motorista terceirizado sob suspeita
Outro ponto de atenção da representação enviada ao MPF é o suposto uso de um funcionário terceirizado do Inmetro, contratado como assistente administrativo, como motorista particular de Brito. Segundo a denúncia, o servidor não registraria ponto eletrônico como os demais colegas. Em nota, o Inmetro negou irregularidades e afirmou que o funcionário em questão realiza atividades internas e externas, com registro manual de frequência.
Márcio Brito afirma seguir todas as normas legais e utiliza o sistema TaxiGov – plataforma oficial para deslocamento de servidores públicos – em conjunto com sua equipe. Ainda assim, o vínculo direto com a Kaele, cuja reputação é marcada por polêmicas e cuja atuação é restrita ao Norte do país, segue sem explicação satisfatória.
O MPF declarou que o caso está em fase de instrução e, até o momento, não há elementos conclusivos, devido à complexidade da investigação.
Procurada, a Kaele não se manifestou até a publicação desta reportagem.