Pandemia sem vírus: ar tóxico de incêndio sufoca Manaus há mais de 20 horas; veja
Manaus – A capital amazonense amanheceu coberta por uma névoa densa e irrespirável nesta quarta-feira (6). A cidade enfrenta uma verdadeira pandemia sem vírus: a fumaça tóxica liberada por um incêndio de grandes proporções que já dura mais de 21 horas no Distrito Industrial II transformou o ar em um risco real à saúde da população.
De acordo com o site meteorológico AccuWeather, a qualidade do ar em Manaus está em nível “Ruim” (70%), o que representa um perigo direto especialmente para grupos sensíveis, como crianças, idosos, asmáticos e pessoas com problemas cardíacos.
Partículas inaláveis finas — conhecidas como PM2.5 — estão acima dos níveis aceitáveis e podem penetrar nos pulmões e na corrente sanguínea, provocando ou agravando doenças respiratórias e cardiovasculares.
Fumaça avança por bairros e intoxica ar da cidade
O incêndio começou por volta das 12h de terça-feira (5), atingindo os galpões das fábricas Effa Motors e Valfilm da Amazônia, na zona Leste da capital. Desde então, mais de 148 bombeiros atuam em regime de força máxima, utilizando 26 viaturas, espuma química e até drones no combate às chamas.
Apesar dos esforços, a situação está longe de ser controlada. O fogo é alimentado por materiais extremamente inflamáveis como pneus, plásticos industriais e combustíveis, o que intensifica a toxicidade da fumaça. A nuvem escura já encobriu diversos bairros da cidade, chegando a regiões centrais e até áreas periféricas da capital.
A tragédia também expôs a fragilidade estrutural do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM). Segundo relatos de moradores e especialistas, a corporação atua com efetivo reduzido, equipamentos defasados e nenhum suporte aéreo, como helicópteros ou aviões-tanque.
Mesmo com a repercussão nacional do caso, o governador Wilson Lima só se pronunciou na noite de terça-feira (5), após forte pressão nas redes sociais. Internautas e moradores criticam a demora e a omissão diante de um desastre com consequências visíveis e agravantes a cada hora.
“Manaus tem mais de 2 milhões de habitantes, um polo industrial com mais de 200 fábricas, e não temos sequer um helicóptero no Corpo de Bombeiros. Isso é uma vergonha”, afirmou outro morador.
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De acordo com o Climatempo, há previsão de chuvas moderadas a fortes ao longo desta quarta-feira. Embora a expectativa seja que o tempo ajude no controle das chamas, a Defesa Civil também emitiu alerta para riscos de alagamentos e deslizamentos, principalmente em áreas ribeirinhas e de encostas.
“O tempo instável pode ser um aliado no combate ao incêndio, mas também traz riscos para comunidades vulneráveis. É importante que a população acompanhe os alertas e evite áreas de risco”, destacou a Defesa Civil.
Um colapso de saúde pública anunciado
Sem estrutura de resposta rápida, Manaus agora respira veneno. A falta de preparo do Estado para lidar com um incêndio industrial expõe não só a fragilidade do sistema de segurança, mas também um colapso ambiental e de saúde pública.
Médicos já alertam para um possível aumento nos atendimentos por problemas respiratórios nos próximos dias. Crianças e idosos são os primeiros a sentir os efeitos do ar poluído, mas, se a situação persistir, o impacto será generalizado.
Enquanto as chamas avançam e o ar se torna tóxico, Manaus respira não só fumaça, mas o abandono de um governo que deveria protegê-la.



