“É como nadar e morrer na praia”: sem exames de controle, pacientes com câncer denunciam abandono no Cecon
Amazonas – Pacientes em tratamento e acompanhamento oncológico denunciaram a falta de reagentes essenciais para a realização de exames laboratoriais na Fundação Cecon, hospital de referência no combate ao câncer no Amazonas. Sem os insumos, exames de sangue fundamentais para monitorar a evolução da doença estão suspensos, colocando em risco a vida de pessoas que dependem dos resultados para avaliar se o tratamento tem surtido efeito.
A dona de casa Rosângela Simas Cavalcante, 57, está entre os afetados. Em remissão de um câncer de mama há oito anos, ela aguarda desde o dia 13 de julho pela realização de exames que deveriam ser feitos a cada três meses. No prontuário da paciente, datado de 14 de agosto, aparecem marcados como indisponíveis testes como CEA, CA 19.9, CA 15.3, CA 125, DHL, Estradiol/Progesterona, LH/FSH, T3/T4/TSH e dosagem de vitaminas D e B12.
“Estou em remissão há oito anos, mas isso ainda não significa a cura. O tempo de acompanhamento é fundamental. Sem esses exames, é como jogar fora toda a minha luta durante todos esses anos. É como nadar, nadar e morrer na praia. Isto é muito grave”, desabafou Rosângela, emocionada.
Diagnosticada com câncer de mama há nove anos, ela já passou por quimioterapia, radioterapia e outros procedimentos agressivos. Cada exame realizado no período de remissão representava uma vitória. Agora, às vésperas de completar 10 anos sem sinais da doença, teme retrocessos.
“Sempre que ouvimos alguém tocar o sino da cura no Cecon, nossas esperanças aumentam. Só queremos que o Estado faça o básico, para que eu e outras pessoas também possamos tocar esse sino”, acrescentou.
A filha da paciente, a publicitária Luana Cavalcante, reforçou a denúncia pelas redes sociais. “É um absurdo que o exame mais importante para um paciente com câncer não esteja disponível em um hospital referência no Amazonas. Espero que essa denúncia chegue às autoridades responsáveis pela saúde. Isso é o mínimo que se espera dos nossos governantes”, afirmou.
Impacto da doença no Amazonas
Dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP) mostram a gravidade da situação. Entre 2014 e 2023, foram registrados 1.837 óbitos por câncer de mama no estado. Desse total, 1.415 ocorreram em mulheres de 30 a 69 anos, faixa considerada de mortalidade prematura.
Somente em 2023, a taxa de óbitos prematuros por câncer de mama no Amazonas foi de 10,6 a cada 100 mil habitantes.
Enquanto isso, pacientes como Rosângela aguardam pela reposição dos reagentes que garantem o acompanhamento da doença e a chance de manter em dia a luta pela vida.





