Manifestação em cemitérios: ‘morte social’ de ex-Testemunhas de Jeová é denunciada em campos santos do Brasil
Brasil – Em vários Estados do Brasil, ex-Testemunhas de Jeová denunciaram a doutrina da discriminação que causa isolamento e “morte social” aos ex-membros, que decidiram sair da religião. Na ocasião, ativistas levaram placas e faixas para sensibilizar os governos e autoridades sobre os prejuízos sociais e mentais causados por práticas antigas da religião, como expulsão pública de “pecadores”, no palco da igreja, que causa constrangimento e infringe a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e da discriminação de ex-fieis, incentivada pelas publicações da igreja e que podem causar suicídio, depressão e ansiedade pelo corte abrupto de relações familiares.
Paraná
“Eu não morri. Estou morta em vida. É uma ‘morte social’, um luto sem funeral”, diz Sheila Czelusniak, 46, ex-Testemunha de Jeová que há mais de cinco perdeu contato com a filha mais velha, com o pai, madrasta, dois irmãos, duas tias, primos e primas, que permanecem fiéis a igreja.
De forma pacífica e simbólica ela e o marido, Luiz Mar Nunes, realizaram um ato no cemitério da Paróquia de Santo Antônio, no bairro Orleans, em Curitiba (PR), contra a doutrina da discriminação a ex-membros. “Decidimos fazer esse ato simbólico para alertar as pessoas que esta doutrina é letal para as famílias, que podem ser despedaçadas, caso alguém decida não seguir a igreja. Nosso objetivo é lutar pelos nossos direitos fundamentais e garantir que qualquer pessoa saia de qualquer denominação sem punições”, explicou a ativista paranaense.
Sheila ainda denuncia que ao escrever uma carta para oficializar a saída da denominação americana, sinalizou que não queria que os dados fossem vazados no palco da igreja, mas sem sucesso. “Eles anunciaram o nosso nome para toda a assistência da reunião, mesmo com a Lei de Proteção de Dados vigente, no país”, explicou.
Brasília
Já em Brasília, quem realizou o ato, liderado por Lara do Prado, 28, que cresceu dentro da religião e se considera vítima da doutrina extremista, por perder o contato com a mãe, irmãs e amigos da religião, após sair da igreja, em 2021.
A manifestação aconteceu no cemitério de Taguatinga, no Campo da Esperança, no bairro Campo da Esperança, em Brasília. “Perdi o convívio com todos da religião, pessoas que me viram nascer e crescer e eram meus amigos, e perdi o contato com minha mãe, pois os familiares também são orientados a evitar e ignorar quem saiu da religião, como uma maneira de fazer a pessoa voltar. Tive que reconstruir meu ciclo social do zero, mas ainda sofro os efeitos emocionais da morte social que me causaram”, denuncia a ativista.
São Paulo
O Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ) estará neste domingo (2), Dia de Finados, no cemitério da Consolação, na capital paulista, para protestar contra a apologia a morte social de ex-membros, que passam a ser considerados “apóstatas” (pessoas perigosas para os que permanecem dentro das congregações). “Além de proibirem transfusão de sangue em quadros emergenciais, as Testemunhas de Jeová também causam ‘morte social’ e discriminação a ex-membros, por meio de suas publicações e site oficial. É inadmissível que em 2025, uma religião escreva e distribua em território brasileiro, a revista A Sentinela (maio/ 2025/ estudo 19/ parágrafo 15) com a orientação de que ‘cortar contato com ex-membros familiares ou amigos é ato de bondade de Jeová’. Isso é apologia a discriminação e há anos tem causado rupturas familiares, que levam a mortes, suicídios, depressão e quadros de ansiedade entre os que saem da religião americana”, diz Yann Rodrigues, líder do movimento.
O ativista esclarece que não é contra a religião, mas contra as doutrinas que causam mortes sociais e prejuízos sociais e mentais.



